UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

domingo, 25 de agosto de 2013

Popped Cherry


Cereja vermelha, apodrecida, entorpecida
Natureza morta, violada, infectada
Céu laranja, enturvecido, ardente
Alma fria, trépida, gélida, ...

Mãos trêmulas, magras, boca amarga
Cigarro, incenso, incêndio, aceno
Gesto ingênuo, obsceno, ligeiro
Homem alto, polido, não vestido

Meias altas, palavras baixas, sussurro
Esmurro, esporro, escuro, escasso
Correndo, escorregando, ofegando
Janelas expostas, vidas opostas

Desgosto, mal gosto, agouro, socorro
Água negra, derramada, poluída, sem vida
Jaz terra escura em minha boca, serpente
Cereja molhada pelo orvalho de outrora

Enterrada, demente, semente... no ventre.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Entre frutos e sombras


Uma mordida e eu sabia que meu coração iria parar. Somente um segundo e um último sabor. Em seu rosto refletida a cor, a maligna cor que emanava daquelas paredes.

Tons e tons de verde, e minha respiração se elevava quase querendo se extinguir. A ânsia de acabar com tudo era tamanha que meu coração quase que parara por conta própria. 

Lembranças amargas me faziam desejar cada vez mais aquele veneno e o brilho do rosto à minha frente, de ansiedade, de suor, de medo talvez, apreensivo. Sujo de fuligem e com expressão cansada.

Ao contrário do meu, lustroso, branco e corado, sem uma ruga sequer. Porém com um brilho fosco nos olhos, de desesperança... A velha devia ser mais viva por dentro do que eu.

- Apresse-se criança! - berrou com seu hálito podre. Eu não pude me mover de tamanha dor que me tomava, parecia que o veneno iria aliviar meu pesar. Ela deu meia volta e deixou-me trancada a pensar, com a solução em uma singela mordida.

Teria meu medo me feito refém de uma vida repleta de falhas, de vazios inexplicáveis? A dor de não ter pelo que sentir era maior do que tudo.

Com a luz da lua a tocar minhas mãos fechei os olhos na esperança de que me viesse alguma ideia. Mas só enxergava o negro dentro de minha alma que a cada dia me consumia.

Ele era a droga da alegria encarnada... e eu viciei. Ah! Como viciei! E aquilo me destruiu por dentro até não haver mais um pingo de luz em meu ser que pudesse me reerguer.

E eu assisti minha própria destruição, minha anulação diante de um sorriso esplêndido que me cativava a cada mover de músculo para se abrir mais e mais e soltar uma gargalhada suave:

- Minha querida!

Mentiras nos cercaram por todos os lados e minha personalidade foi moldando-se aos seus atos. Fui me degenerando a cada sorriso seu, a cada toque em minhas mãos...

Mãos que agora brotavam espinhos, que sangravam e tremiam. Meu rosto se desfazia e derretia num calor agonizante. Minha pele como cera escorria e os músculos continuavam pulsando descobertos e...

- Arrghh!

A vela me queimava e eu havia adormecido, minhas mãos vermelhas e quentes com formações de bolhas e o fruto caído ao meu lado. Os lábios se encontravam dormentes e mal conseguia produzir algum ruído. 

A velha sentou-se em frente a mim fitando-me e sem uma palavra sequer me deixava perturbada. E eu puxava o ar mas meus pulmões pareciam paralisados, me arrastei até a fruta e encontrei-a intacta... meus olhos arregalavam-se e minhas unhas cravavam no chão de pedra deixando um rastro de sangue.

- Ah criança!

Eu me debatia e minhas veias já estavam saltadas, não tirava os olhos dos olhos da velha que tinha um sorriso engraçado no rosto. Apertei meu pescoço, tentei pedir ajuda com o olhar e ela nem uma palavra dizia com seu sorriso estático.

Fui desistindo a cada tilintar que ouvia em minha mente e a cada escuridão que me passava diante dos olhos. O fruto foi apanhado pela velha que girava-o como que inspecionando. Fechou a cara encarando-me com a respiração escassa.

Eu encarava o fruto intacto e ela por fim disse:

- Este seria seu pior mal - girando a maçã vermelha lustrosa com uma camada esverdeada. - Criança, você está se afogando em sua própria escuridão, na aura negra que consome sua alma. É tarde para tentar lutar é tarde para acordar... O fruto apenas lhe daria uma morte mais branda.

Me revirei para ouvi-la melhor, ainda caída no chão.

- Não, não vai morrer, não se preocupe. apenas ficará presa no seu próprio corpo, como um boneco que não serve mais para brinquedo. Não lutou um pouco sequer contra seu desejo e se jogou no mal que a encantava. Seus pensamentos continuarão em sua cabeça mais ávidos e mais detalhados, viverá eternamente suas lembranças mais ruins e perturbadoras. Agora já não mais se move mas deixarei a maçã ao seu lado...

-... para que se lembre que até mesmo o veneno pode se tornar doce perto do que guarda dentro de si.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Espinhos, pele, sangue



Quando sua última pétala cair, saberá que o mundo todo despetalou-se, e que tudo são espinhos. Somente espinhos, pele e sangue. Ninguém por você, ninguém que te proteja de rasgar-te a seda da pele. Nem ao menos os seres mais próximos de ti.

Os primeiros virão e roçarão no seu rosto e o veludo se partirá com a superfície pontiaguda e vívida. Não peça respeito, havia um somente... e sob as pétalas ele jaz. Violado pelos próprios sentimentos. Pena que não mais respira...

Faça seus próprios espinhos crescerem e crie sua barreira contra essa imundice, contra esses primatas que agem por puro instinto... Instinto esse que te fez pecar, te fez ferir a superfície do corpo de quem te guardava, do único que te despetalaria se assim o permitisse, um que não cravasse seus espinhos profundamente sem sua permissão, somente para lhe causar dor.

A cor pálida em seu rosto... era a mesma de quando o tinha por perto? Ou era ainda uma flor em botão? Prestes a sangrar sua inocência?

Ambos se dilaceraram o tanto quanto puderam, deixaram suas entranhas em pedaços... porém a pele era sempre a mesma cama macia de pétala de rosas. Banhada de súbita paixão e assim sabiam que um era do outro... Até os espinhos saírem de seus cernes... Até saberem que o que vinha de dentro dilacerava. E que a pele continuaria intocada enquanto presentes.

Na ausência de ambos... foram se perdendo e se deixando arranhar, perdendo a maciez juvenil e a cor rubra que possuíam... Hoje teu rubro é de teu casto, teu casto gasto de espinhos apinhados que se roçam a outros...

Nunca mais voltará a ter a pele de pêssego recém colhido, o aroma das flores da primavera e nem mesmo as cores vivas das asas dos beija-flores. És somente o escárnio de teu próprio sentimento. O sangue pisado e batido, o odor podre de ter sido corrompido... primata... querendo resistir aos instintos.

Apenas a almejar as pétalas virgens do corpo que descansa sob elas... o respeito que impedia os espinhos de crescerem e de romper a fina tez... a alma destruída de recipiente algum precisa, de respeito algum e de celibato algum... viva o corpo primata que padece sob o poder da alma. Viva o corpo que mata ao prazer súbito da calma.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Mudanças, coisas e listas



Algumas coisas nunca mudam e então somos nós quem devemos mudá-las. Se a goteira sempre cai no mesmo lugar ao invés de ficar lamentando que ela estraga o carpete, por que não conserta-la? Afinal não deve ser assim tão difícil... Ou você muda as coisas ou elas nunca vão mudar. Algumas tem o poder se se ransformar por si só, e então podemos nos acomodar achando que tudo tem esse poder.

Se você vive uma situação que não lhe agrada e sempre pensa que ela vai mudar por si só ou que alguém envolvido fará esse papel... sinto lhe dizer mas vai juntar um balde de frustrações... Mude-a! Tente agir de outra frma, tente ver por outro ângulo, proponha algo, diga algo que surta efeito e tomadas as providências vê que ainda não mudou... mude de situação, procure outros ares e outras coisas.

Aquilo que é para ser seu, ninguém tira, se lhe foi destinado, ninguém irá possuir... Não para sempre, o que é seu sempre volta para você. O que é seu é seu para sempre, caso contrário nunca foi e nunca será. É de outra pessoa e só não chegou nas mãos dela ainda. E o que é seu ainda não chegou em suas mãos.

Se bem qua acredito que colecionamos coisas, não é somente uma, são várias. Pode ser que sim, que por um momento aquilo era seu, mas também não significa que precisa voltar para suas mãos. Como um brinquedo de infância que você doa... era muito importante e no fundo ele carrega todos os seus sentimentos e memórias. Têm sua marca alí apesar de estar com outra criança.

Algumas coisas são eternamente nossas porém não nos seguem pela vida toda... Como nossos pais, nossos entes queridos, nossos animais de estimação.

O fato é... tudo vai se tranformando e se ajeitando, as peças mudam, sempre. Não insista em guardar peças que devem circular por aí, que devem obter algum outro valor. Somos feitos de valores e vamos andando por aí com uma lista dos valores que serão atribuídos a nós... temos que entrar em diversas situações para que essa lista seja preenchida e as pessoas fazem parte desse processo, nos ajudando a agregarmos. Pessoas sempre vão circular por aí... até que sua lista é preenchida e ela pára, ela pode parar em você mas não você nela, vocês podem parar um no outro.

Vocês podem até ter se conhecido à procura de um dos atributos mais importantes da lista, porém estavam no meio dela... e precisavam circular para preenchê-la. Quem sabe se quando as listas forem completas, se houver sincronia, que um volte para o outro.