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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Espelho ao avesso


A dama havia saído do banho. Depois de uma noite agitada no centro. Com milhares de pessoas importantes. Com todo aquele teatro. Aqueles encantos antigos dos jovens a pageá-la, a cortejá-la. Cansada de toda essa coisa.

Pousou em frente ao seu espelho gigante de moldura dourada, ornada com lindas volutas, voluptosas como seu delicado e embriagante corpo. Sentou-se na cadeira de estofado verde musgo que contrapunha com seu batom carmim.

Seus cabelos louro-escarlate. Uma cor somente dela. Talvez próprio para aquela dama. Pendiam sobre seu manto verde, verde filho daquele da cadeira, ainda vívido.

Se olhava e penetrava o olhar através do espelho. Agora se via através dele, atrás dele, nele e o espelho agora assistia a dama a olhar-se.

Fazia gestos com a cabeça, mudando de ângulo. Afastava o cabelo da face, prendendo-o de forma desorganizada, como se para somente ver o que estava encobrindo.

Desceu o manto até os ombros e foi deixando-o cair. Filmando-se. Sua iamgem a agradava. Podia não ser a mais bela de todas, atraía os homens errados. Mas ela gostava.

Percorreu seu olhar por todos os cantos do espelho que revelava uma sala forrada com tecidos adamascados e cortinas de veludo na cor vinho com detalhes em ouro envelhecido. Uma iluminação sutil, que a tornava uma pintura renascentista.

A tez branca como leite e rosada como as bochechas das virgenzinhas. Um outro ponto foi chamando-lhe a atenção assim que descera a capa caíndo em seu colo. Duas auréolas delicadas e com aparência macia como pêssego. Logo que viu encolheu o corpo dando volume aos seios pequenos e enrijecendo os pontos rosados.

Sua face corou levemente, de forma virginal e inocente. Suas pernas juntas se contorciam pela vergonha que sentia, apesar de estar só. Encarou-as e foi as separando de leve revelando outra cena oculta.

Suspirou e mordeu os lábios, fechando bruscamente as pernas. Pondo as mãos no peito e respirando um tanto assustada. Sorriu discretamente. Acariciou um dos joelhos e foi puxando-o forçando a se abrir. Assim como as flores mais belas que vão se abrindo ao passar dos dias, com o toque quente e suave de cada sol da manhã.

Viu-se totalmente num ângulo obtuso. Revelando sua intimidade que pulsava de forma tímida. Sua respiração a condenava, ofegante e irregular.

Hesitava em mexer as mãos, em mover-se. Mas foi adimirando cada pulsar e cada sensação que lhe percorria o corpo todo. Apertou os seios que mal enchiam suas mãos.

Levou uma mão à boca como se tentasse silenciar sua satisfação. A outra descera até o ventre e alí parou. Alí era seu limite. Quis fechar-se mas não conseguia. Ansiava muito, muito.

E então desceu e desceu. Segurando-se num dos braços da poltrona que abraçava seu corpo participando daquele rito. Segurava como se fosse cair a qualquer momento, como se fosse seu amante.

Sentiu uma pequena corrente elétrica passando por todo o seu corpo, e voltando a origem. Seus dedos tremiam mas sabiam bem o caminho e logo sentiram as pétalas ornadas por orvalho, úmidas como na manhã. Tocadas pela neblina que respira ofegante a ausência do calor do dia.

Lá se foi. A dama corava e jogava sua cabeça para trás, se afundando na poltrona. Ainda tentando conter seus gemidos tímidos de moça virgem. Ainda tentando esconder-se de seus olhos.

Mas o espelho a fez encarar-se e então sentia mais e mais a vontade de virar ao avesso, de entrar em si mesma. De continuar aquilo que nenhum rapaz a fizera sentir nunca na vida. Com todas as suas tentativas.

Ela amava somente a si mesma de forma a nunca entregar-se por inteiro. Reservava um pedaço para ser somente seu, somente de seu acesso.

Seus olhos se encaravam, e o fogo que neles brilhava punha mais desejo em seu corpo. Como se agora nem ela pudesse se satisfazer, nem um rapaz, nem um ser divino. Seu rosto tornou-se diabólico e as mãos não eram mais as suas.

Mas um último gemido de luxúria trouxe de volta a garota pura. Que se desmanchava na poltrona. Violada por si mesma.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Leviana obsessão

Lancei-lhe meu último olhar
E um primeiro feitiço
Não me importava suas vontades
O que tinha que ser feito
Tinha que ser feito

Não importava as consequências
Somente era para ser meu
Aquele foi seu último sorriso

Penúltimo
O último será no dia escolhido
Quando apertar sua face
Até deformá-la
Formando um leve sorriso

Mesmo que horrorizado

Aquele anjo pôde descansar
Sua missão acabou
Tenha suas asas rasgadas
E se torne um humano errante

As vozes me dizem
Roo minha própria carne
Olho em teus olhos aturdidos
Ouço-as emergir

Meu Deus! Como te perdi de vista?
Somente olhei para o lado
E nem estava mais a ver a vitrine

Como foi-se e não vi?
Como ela te encantou?

Te odeio a ponto de amá-lo
De se tornar o ponto inicial
E o final de minha vida

Eu te amo
E não importa o que faça
Ou o que diga
Assim será em minhas mãos

Seu sangue assim transcorrerá
Meu amor de todas as tardes
Meu único feitiço noturno
Eu me despetalo a cada toque seu

Ajoelhe-se
E diga que me ama
E que quer se acabar
Pelas mãos de sua amada

DIGA!
DIGA!
ORDENO!

Um empurrão
E meus punhos estão em sua carne
Puxo-os, ahhh estou me derretendo
E meu amor é puro

Geme e seus cabelos colam em sua face
Sente dor? Ainda vive?
Não importa o que diga agora
Está no fim e eu fui sua última

Não importa o que tente
Eu te amo e não poderá mudar isso
Não poderá voltar todos os momentos
Não poderá consertá-los

Um feitiço mau feito
Não te trouxe a mim
Eu tratei de cumprir o destino
O carma meu bem!

Seu coração agora está em minhas mãos
E sangra desenfreadamente.
Você disse que nunca ia ser meu
Agora, o que se arrisca a dizer?


*Baseado na música de meu queridíssimo Marilyn Manson