UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

domingo, 21 de agosto de 2011

Amarras

Estou segura
Dentro do olho do furacão
Longe das imagens aterradoras
Eu não consigo me ver nelas

Minhas linhas de pensamento
Se materializam
Enforcam-me

Um grão de areia
Que é expulso do furacão
Lançado a toda velocidade
Se juntará com outros
E se torna novamente areia

Olhos perdidos
Luz e ruído
Trancafiada
Numa caixa vermelha

Fui presa pelas minhas paixões
Perco o sentido e o desejo
Me chicoteiam até que a carne se solte
Mascarados e sorridentes
Todos eles me odeiam

Sente-se o drama de suas palavras
Fui apenas a cortesã rebelde
Que se acanha e não se abre
Que cospe nas mãos que vieram lhe despetalar
Mas sorri num prazer secreto

Garotas virgens na mira
Aquelas por quem esperei
Canto tântrico de liberdade

A caixa se abrira
A luz me devolve a visão
E as paixões se dissolveram
Resta um, o que tem a espada nas mãos
Irá me decepar
Ainda assim sorrio em agradecimento

No final ele morre
Pois se eu me vou
Deixa de existir em mim

Apenas cinzas de um incenso
Seu odor que se espalha
E morre em seguida

Não passou de ferida
Que se cura e se mata
E não mais desata
Pois já cicatrizou

Nunca existiu agora
E no passado não mora
O vácuo, o nada
Que ainda assim incomoda

Me desamarra, me solta!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Crias da Megalópole

Eu já disse que te amo hoje? Se eu não disse é porque não preciso disso. Porque sei muito bem o quanto te quero e para quê repetir todos os dias? Eu tenho certeza!

Eu acordo todos os dias e penso em tudo e em todos. Eu olho para o sol ou para a chuva e sorrio. É mais um dia e eu estou bem, eu supero. Eu deixo me levar pelos ventos da cura. Eu tento me reerguer e a cada dia eu dou mais um passo.

Eu vou vivendo a minha vida com as minhas neuroses e chiliques. Um dia ruim outro pior, um melhor que todos. Assim é. Assim vou lembrando de você, dele, delas. De todos.

Se não te digo que gosto de estar com você é para não nos afastar de repente. É para ir levando as coisas e eu bem sei que tudo que nos afasta, nos aproxima. Eu bem sei que a qualquer hora os ventos podem mudar de direção e se faz um vendaval, estou dentro dele e você já bem longe numa casinha de madeira.

O que me preocupa é ouvir o seu "eu te amo" todos os dias. Vai ver é o costume. Se um dia eu te disser 'eu te amo' repetidas vezes, de modo rotineiro, se preocupe! Pois aí sim pode estar surgindo outros sentimentos ou morrendo alguns e a necessidade de afirmar para si mesmo que não se deve abandonar recai em um "eu te amo", desesperado. De forma a dizer "será que eu amo mesmo?" eu me preocuparia.

Mas o amor é coisa complicada, é assunto pra poeta, pra boêmio, pra bêbado e para mulherzinhas. Não me sinto mal em desprezar o amor, porque sei que ele a cada dia tenta me vencer, a cada dia me aplica uma nova lição, que é para ver se eu enlouqueço.

E não é que às vezes dá certo? E porque tratar sentimentos banais como amor? Oras tudo tem amor, é ele quem move o mundo ele e seu meio irmão, o ódio. Quando os dois resolvem se encontrar, sai de baixo que aí vem a prima que vem de malas cheias, a neurose, com sua amiga psicopatia e mais uma leva de doidos que nos tiram do sério.

Mas as criaturas que não dizem não significa que não sentem, não sofrem. São caladas e individuais demais para padecer de tal doença, dessa febre que nos queima. São fortes demais. Ou tão fracos que se trancam em si mesmos ou que despejam suas frases prontas por aí. É tudo questão de ponto de vista, pois tudo aqui é visto de maneira isolada, pois poucos têm idéia de que vivem num conjunto, num mundo.

As pessoas nem sabem o significado de mundo, de população, de pessoas. É tudo um amontoado de terra ou de carne. Ninguém nem sabe o que é o espírito. "Ah, é aquilo que tem dentro de você, como recheio", é mais. Não está só dentro de você como está no mundo, tudo ligado. E cada qual com sua ferida, com seu amor perdido.

Pois é amor aqui, amor alí... Cansei de tanto ouvir essas palavras por aí a fora. De tentar vivê-las por aí a fora. A cidade é pequena e encolhida demais para deixar esses sentimentos se expandirem. A vida noturna é fria demais para deixar se esquentar. As pessoas são pequenas demais para viver coisa tão grandiosa assim.

É mais fácil não se apegar, não amar, não olhar, não admirar. Tudo rápido e vinte e quatro horas como em todas as metrópoles. Pois a atmosfera é muito rarefeita para esses aromas inebriantes.

Porque se tornou natural se defender das coisas mais inofensivas da vida, pelo descuido dos que não sabem amar e não sabem se amar. Como todas as coisas, um depende do outro e nesse clima holístico que a cidade não tem, dá crias individualistas e medrosas, presas fáceis e caçadores hábeis. Pena que não contaram a eles que estão de passagem. Não lhes disseram que não vão levar da vida os sentimentos levianos, os não-sentimentos que de nada valem. Que pena, não contaram.