UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Mais Uma Xícara

 Às vezes tudo o que 
precisamos é de um chá.
Quente e doce.
Com aquele gosto de:
preciso de mais uma xícara.

Com um aroma inebriante.
Quente como um abraço.
Adentra seu corpo.
Aquece os lábios.

O corpo fica em êxtase com
tamanho sentimento de
preenchimento.
Depois tudo acalma.
Faz um bem pra alma.


14/07/2023

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Assonância, relutância

Quando eu falo
Quando eu calo 
Quando eu escuto
Quando eu surto

Quantas cenas
Tantos gestos
Uma máscara
Um protesto

O grito não sai
A voz silencia
O corpo se engia

A doença vem
Os limites também

O eco ouve
Ele devolve
Ele me escuta
Ele responde

Repetitivo
Primitivo
Ciclo vivo
Vicioso

Sempre volta
À minha volta
Como uma escolta
Como na escola

Não aprendi
Não entendi
Só vou dormir
Sentir partir

Chega o sono
Vem o sonho
Vai-se o medo
Vai-se a sombra

Se me lembro
É setembro
Eu espero
Amarelo

Ninguém ouve
Ninguém vê
Nada além
Nem ninguém

Eu repito
Eu suplico
Quase vou
E quase fico

Nunca inteiro
Sempre partido

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Interna(mente)

Tento não preocupar
Tento me ocupar
Mas tudo gira
Rápido e devagar

Um sorriso que esconde
Uma gargalhada que camufla

O corpo incomoda
O peito infla
O ar parece estar preso
Numa prisão de carne e osso

Tento não implodir
Tento me impedir
É algum crime
Não se manter firme?

Sorria e aguente
Eles dizem... 
"Não é tão urgente"

Se eu te contar
Qual desculpa vai dar?
Vai ficar tudo bem
"Siga em frente meu bem"

Em frente
Enfrente
Imediatamente
Não lamente

Eles não gostariam
Não mesmo
De estar na minha mente
Por um segundo ou menos

A poesia me acalma
Me acende a alma

Eu só queria falar
Mas não quero preocupar
Prefiro me ocupar
Poupar

E então não é o fim
E só mais um dia assim
Sem que eu desista de mim

sábado, 1 de janeiro de 2022

Amarelo

Um pedido de socorro 
Em amarelo ouro
Um tudo bem
Nem tão bem

Uma risada escancarada
Esconde a dor lacrada
Um riso singelo
Um sorriso amarelo

Parecia feliz
Brincava, sorria
Mas a cada risada
Um pedido de socorro escondia

Quem iria decifrar?
Decifra-me ou te devoro
Decifra-me antes que eu desista

Desistir não é deixar
Desistir é fugir

Uma fuga esperançosa
Uma porta para a felicidade
Outro plano
Outra realidade

SOS 
Um apelo
SOS
Veja além do óbvio

Quem sabe eu crio um elo
Quem sabe eu veja o mundo
Com um pouco mais de
Amarelo

domingo, 19 de dezembro de 2021

Sem açúcar

Ainda sinto a temperatura, porém me parece que estou num abrigo, numa cabana de madeira escura com frestas a entrar a luz e o frio. A tonalidade gélida do horizonte.

Aqui estou protegida sentada em uma poltrona velha de balanço. Envolta em um xale com um perfume de flores e degustando um chá sem açúcar.

Minha nada doce vida, o vento vem me receber. Antes eu queimava viva, meu estômago, minha cabeça e meu corpo inflamavam.

A suave brisa da cabana me trouxe uma esperança de paz e baixou minha temperatura. As árvores dançam lá fora de forma compassada e toda a sincronia da natureza me traz paz.

Enfim posso fechar meus olhos e descansar.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Alma sem flores

Você é apenas um borrão
Uma pincelada inacabada
Um sonho distante
Cheio de ilusão

Flores vivas em suas mãos
Roubadas de um jardim qualquer
Sentimentos tão mortos quanto seu olhar
Nada em ti soa real

Suas mãos são um convite
Para um precipício

As raízes
Nem sequer as cortou

E o que sabe sobre raízes?
Sentimentos que nunca provou

Eu fingi para o nosso nós florescer
Eu fingi para tentar caber
Eu fingi para ver um sorriso

Eu plantei naquele jardim morto
As sementes mais preciosas
Elas nasceram belas sem alma
Enquanto eu olhava para os céus
Você envenenou todas as rosas

Quando eu me senti inundada por ti?
A única invasão era seu toque insosso
Seu beijo frio e calado
Seu toque esquivo

Olhava-me nos olhos
Como quem quisesse dominar
Eu me fiz fantoche
Para que pudesse se alegrar

Quando foi que eu sonhei um sonho
Que real nunca poderia se tornar?
Quando eu me deixei ser seu jardim?
Onde plantou suas sementes podres

Eu me deixei morrer
Para reviver como sua boneca
Eu te amava a ponto
De esquecer que eu estava viva

Você entrou na minha vida como o sol
Com sua presença desmedida
Inundou minha alma com calor
Inundou minha essência com amor

Armadilha
Numa trilha
Numa via
Sem saída


* Baseado na música "Fake Love", BTS.



terça-feira, 7 de setembro de 2021

A Partida

Eu despertei de um sono profundo
E esse não era mesmo meu mundo
Eu olhava e não me encontrava
Não me cabia
Não comportava

Eu apenas deixei de existir
E passei a assistir
Minha quase vida se extinguir

Tudo começa a ruir
No momento em que apareci
Não tinha onde apoiar
Não tinha onde repousar

A tempestade era em minha mente
Mas meu corpo se afogava
A voz calada sufocava

Estava presa num limbo
Estava apenas existindo
E a escuridão assistindo
Era o fim do meu destino

A calma dentro do caos
O tempo escorrendo pelas mãos

O infinito passa a ter fim
E o tempo apodrece dentro de mim
E a escuridão insiste em resistir
E minha alma pronta para partir

Tudo é escuro e frio
O que um dia já foi flor
Hoje se torna dissabor
E o que um dia já foi vida
Se rompe, apodrece e finda

domingo, 17 de novembro de 2019

Coeur Noir


Olhos sérios e testa engiada, a olhar pela janela.
Encarava o nada no horizonte, pensava em sua existência.
A brisa quente e leve soprava em seu rosto.
Um belo rapaz passava na rua e olhou em sua direção.
Incomodada e entediada virou-se para seu próprio ombro.

Ela era fria e incomodava quem quer que cruzasse seu caminho.
A solidão sua mais antiga amante e até mesmo dela a dama se cansou.

"Não quero chuva,
não quero sol,
não quero terra,
não quero mar"

Mas no fundo o que negava era o desejo de amar.
Privava-se do contato humano, fugia de se entregar.
Fechando os olhos mergulhava num sonho, num inconsciente mundo efêmero, fugaz.

Quando acordava, um aperto no peito a tomava. Sempre o mesmo.
Tinha a sensação que a cada nascer e a cada pôr do sol, seu coração diminuía.
E a cada dia, ela tinha vontade de se mexer menos.

Doze horas de sono era pouco. Seu corpo pedia descanso.
Descanso eterno e ininterrupto.

Passaram-se dias...
Seu apartamento trancado, exceto pela janela da sala, cortinas esvoaçantes e quase se partindo.
Sua alma teria partido?

Deitada e inerte, assim fora encontrada, sem vida como sempre fora.
Somente parou de respirar.

Sua família inconsolável quis saber a causa da morte.
Suas coisas estavam intactas, mas a poeira tomava conta.

Próximo a seu quarto, um rastro de cinzas negras. Fuligem.
Sinais em seu rosto de um terrível e seco pranto. Suas feiões eram fechadas.

Abriu-se o peito da jovem. Bisturi cortando seu tecido branco.
A pele sendo dilacerada, banhada por um sangue escuro.

Do lado esquerdo do peito algo muito estranho foi avistado...
O que outrora fora uma carne saudável, deu lugar a algo espantoso.

Seu coração era pequeno e negro, um carvão que fora consumido.
Do tamanho de uma ameixa, padeceu sem amor, sem luz... e sem cor.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Catrina

Trazida pelos ventos do norte
À esperar pela doença 
Já a amava desde criança 
Vestida como a morte

Trajada com a loucura 
Jogada à propria sorte
Com a vontade mais pura
De encontrar-me com a morte

Um rastro de esperança 
Foi esquecido em minha infância 
No porto sob o sol forte 
Esperando o beijo da morte

Como uma miragem no deserto 
Seu manto negro à flutuar 
Como que em transe adentrei o bote
Para com a morte desposar

terça-feira, 20 de março de 2018

Ruínas



Há mais beleza nas palavras tristes, nos sentimentos profundos e na destruição. Uma flor é bela por suas cores, por sua representação da vida. E uma ruína? Que sobrevive ao tempo, que carrega uma história, que carrega sua morte e vida a cada dia...? Sou minha ruína, carrego minha bagagem a cada dia, há quem queira terminar de me destruir, há quem queira me registrar. Ali vivo com meu passado e meus pesares, me alimento das lembranças, eu não queria ser um monumento que encerra toda beleza em si mesmo. Sou um símbolo, sou marca de um período, sou o que sempre quis ser...
A ruína dos amores e dos sabores de outrora. Podem me derrubar agora, ali estarei, no solo de qualquer outra edificação. Ser triste é mais profundo, é não se entregar às fúteis insanidades do mundo, é não se conformar, é questionar, é pensar, pensar, pensar... Por que não vieram me implodir? Eles devem enxergar beleza nas ruínas, devem enxergar a si mesmos negando suas frustrações. Sou o monumento da memória dolorosa, que todos tentam se esquecer. Há quem me chame nostálgica, sou apenas fragmentos dos sentimentos que enterrei antes do tempo, um túmulo das experiências não vividas. Sou meu próprio jazigo, me enterro em mim, me encerro em mim, me liberto... Enfim.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Desvanece



Era noite
Era dia
Era a madrugada
Distante e fria

Seu rosto desaparecia
A cada memória forçada
A cada lembrança inventada
A cada pedaço de vida

As horas passam
E me mantém ativa
O sono me abandona
Minha alma vibra

Ainda vive em algum tempo?
É noite ou dia?
É frio? É escuro?
Pois então me diga

Seu retrato não encontro
De tuas palavras não me lembro

Pois me diga pobre alma
Por que de ti não me esqueço?

Que valor tens eu não sei
O que és muito menos

Pois me diga
Por que...
Esquecer de ti não me atrevo?

Tens um trevo contigo
Mas a sorte não te acompanha
Tens meus sonhos, amigo
Ainda assim não me encontra

Se mostra distante
Sempre sem palavras
Eu avisto teu rosto
Mas nunca me aproximava

Ora! Estamos presos
Entre dois mundos
Entre dois planos
Duas frequências
Dois submundos

De ti amigo não me lembro
Nem sei de tua real existência

Mas sinto que sentes minha falta
E sinto tua presença

Em alguma lembrança sobrevive
E em meus lamentos mantém sua essência



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Limítrofe, eu

Almejo
Eu vejo
Relampejo

Em teus braços
Teu corpo
Teu beijo

Alinho
Me aninho
Carinho

De tua cama
Fizeste meu ninho

Dos amores
Tremores
Terrores

Em minha boca
Todos seus sabores

Algoz
Feroz
Veloz

Calaste minha alma
Calaste minha voz

De que vale o acalento
Se fugiste com o vento
De que vale meu lamento
Se viajo contra o tempo

Corro de encontro
Corro dos outros
Corro de mim

Num abismo sem fim
Eu me atiro
Em meus próprios espinhos
Eu me firo

Liberta estou
De tudo o que me mata
Deste corpo pesado
Da mente maltratada
Meu ser não passa
De matéria inanimada

domingo, 7 de junho de 2015

Do efêmero



Amor vão o meu
Que fora eu pra ti
Senão seu recipiente de sêmen e riso
Quem me dará vida num dia frio

Dei-te momentos
Dei-te calor
Dei-te prazer
Deite, meu amor

Sou pele pálida
Fria e pegajosa
Sem ti me acabo
Sem ti eu vago
Senti amargo

Abranda-me esta carência
Acenda o fogo de meus olhos
Sem decência
Sem presença

Foste morar noutro canto
Fora pra longe de meu pranto
Escarrou em minha alma
Levaste toda a calma

Saberá que um dia te amei?
Que de minhas terras te fiz rei
Que tu eras meu único
Que mesmo livre...
A ti me ancorei?

Pobre de alma estúpida sou
Podre por dentro
Teu mar branco me inundou
Tua alma de certo me adentrou

Pode tal criatura viver em paz
Se desde que ancoraste em meu cais
De toda a treva me libertou
E ao partir toda à ela me entregou

Visto luto por teu nunca amor
Visto luto por meu dissabor
Visto luto pelo não destino
Visto e luto contra o desatino

Sabendo que flor jovem eu era
Chamou-me pra travar esta guerra
Do sentir e não sentir
Do amar e não poder
Do conquistar e deixar morrer

Para que pudesse derramar em mim
Seus desejos em minha boca carmim
Os prazeres em minhas curvas tatuou
Minha alma com a tua tateou

Aqui estou para jazer em mim
O que um dia foi um vasto jardim
Cada gesto sincero teu
Fez-me provar o céu
De cada olhar brando
Do inferno trouxeste o fel

De toda minha lei
De todo meu encanto
De toda minha alegria
Sobrou-me este triste cântico

sábado, 13 de setembro de 2014

O tempo, o ócio e o vento

  

Dalí de cima, o tempo não passava. Eu via tanto ao meu redor... tantos pedaços. Sentado na pedra mais alta, contra o vento morno. Ali ouvia sussurros, ouvia todos os sussurros do mundo.

Me espreguiçava e meus olhos umedeciam. O sol tentava trocar algumas palavras, o máximo que conseguiu foi me fazer fechar os olhos, numa careta ensolarada.

A falta do que fazer me fazia-me admirar as ondas lá embaixo, como cada curva lembravam aquelas camadas que escondiam as pernas das damas de outrora.

Belas damas! belos trunfos escondidos nas mangas!

Pendi minha cabeça pesada e cheia de problemas sobre meu braço. Eu queria paz, eu tinha, o que me faltava agora? As damas lá embaixo parecem me chamar para brincar entre as camadas de tecido.

Eu não quero é nada, o vento, o ócio, o tempo.

O tempo que pára.
O vento que sopra.
E o ócio que os move vagarosamente.

As aves que passavam em voos rasantes, como tentativa de me despertar. Ah! Já disse, não quero nada! E nem o nada me quer. Ele quer um outro nada, que o faça descansar de sua obrigação de nada afzer.

E o sono... a cada vez que piscava meus olhos me vinha a imagem do meu amigo. Aquele que me deixava sempre a esperar e... Nada.

Minha vida em si é um grande vazio. Um tempo sem vento, o ócio e o lamento.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um dia... há de ser.



Sua beleza e excentricidade encerravam-se em si mesma. Horas frias da madrugada, pela cidade a vagar, pelas alcovas a entrar. Era dona de uma beleza rara, dotada de tons escuros e amargos.

O afago que a desejava, a boca que a tomava, o corpo que lhe reclinava. Tantos eram os rapazes, tantos eram os prazeres. Onde passava se fazia notar, seu esplendor era de matar.

Recebia elogios, flores e pedidos. Ainda assim seus olhos inexpressivos perdiam o brilho a cada piscar. Sua janela, sua companheira de espera, espera por algo, que para ela não existia.

Seus encantos, tantos e tantos. E seu pranto, sofrido pranto. De dama vistosa que nunca seria amada. De mulher independente que no fundo não era respeitada. De admiradora de muitos que ao fundo de uma bela imagem não passava.

Diziam-lhe os rapazes, que seus gestos eram fugazes, ferozes e selvagens. Efêmera era sua passagem, na vida de cada moço, cada jovem ou ancião... Ninguém a guardava, não. Era dama exótica de palavras bem colocadas, era moça irreverente de olhar atraente, era garota inocente e era mulher madura e reluzente. 

Para amores rápidos de tudo servia, para se ter ao lado a jóia, a fantasia, para se deliciar em sua alcova a dama servia. Para amá-la ninguém a queria.

Sentava em sua janela e pensava chorosa: "Que vida é essa, sou bela, formosa! De troféu me fazem bem, mas de esposa...? oh morrerei sem... Sou um pavão, um enfeite, uma mostra. Sou uma obra de arte, um quadro ou aposta. Sou o ouro no anel do barão, sou a seda da gravata do homem polido, sou a mulher ao seu lado que lhe faço brilhar... Mas haverá um dia alguém de me amar?".

Noite adentro a dama esperava, pela noite fria andava depressa. Procurava carinho no braço de estranhos, procurava um brilho em seus olhos castanhos. De nada valia ser tão subversiva, tão livre e tão decidida. 

Se todos os seus casos na mesma frase acabavam: "Minha esposa me espera, não posso deixá-la. Você é incrível alguém virá para amá-la.".

Era aceita. Era eleita. Era perfeita. Ninguém a rejeita. Ninguém a vê além do que se pode. Os preconceitos haviam a jogado no limbo. Onde os homens passam e admiram, porém nenhum a estenderá a mão. Era só ela e seu vazio coração.

Era uma mulher exótica e por isso sozinha. A beleza que se encerra no mesmo instante em que admira.