UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um conto do Acaso



Dançou comigo. Naquela noite foi a primeira e a única. Desapareceu por entre a fumaça.
Não esperou que lhe dissesse meu nome, não fui a única.
.
Antes olhou-me nos olhos, mas quis evitar.
Desviei o olhar para um rosto jovem porém acabado que estava na direção oposta,
dançava sem pudor algum.

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Puxou-me pelas mãos, sim, a garota! Queria minha atenção?
Não, estava somente a procura de um par.
Logo eu, que nem sei dançar.

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Queria sair da pista, então dei-lhe um puxão.
Não me tire daqui! - disse tentando me fazer ouvir.

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Soltei suas mãos e saí. subi as escadas. Passei pelo bar.
Sentei num lugar vago.
Apaguei por uns minutos, creio que não tenha passado muito tempo.
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Acordei confusa e sonolenta com uma mão a roçar nas minhas.
Olhei repentinamente para o lado.
Aê! Acordou! - um semblante muito animado me dizia.
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Me fez mil perguntas. Qual seu nome.
Está gostando da balada. Curte tal banda.
Não respondi uma sequer.
As pausas se tornaram maiores entre uma pergunta e outra.
.
Tá sozinha? Depois dessa um beijo, ou um quase beijo.
Empurrei-o e me levantei.
Voltei à pista. Tudo se movia com rastros.
Colocaram algo na bebida. Mas, nem descuidei do copo...
.
Ouço um "você!" sussurrado ao ouvido. Virei-me. A garota!
Dança essa comigo! -disse.
Dancei ainda que descoordenadamente, me guiando pelos movimentos dela.
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Você não parece bem. foi a última coisa que ouvi, depois disso,
já estava num sofá meio que deitada e ela a me segurar, me dava água.
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Por que justo no dia que eu estava desacompanhada me acontece uma dessas?
O destino prepara cada cilada.
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Só foi ouvir "Dance the ghost with me" do refrão que levantei de sopetão e
puxei-a pelos braços fortemente.
Sussurrei "Dance a morte comigo?", ela sorriu.
Me sentia melhor. A música perfeita, o momento perfeito.
Procurou com os lábios meu ouvido, para sussurrar algo...
Mas por um deslize encontrou os meus.
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Cantamos ferozmente olhando-se nos olhos, quase que gritando, energicamente.
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Jogou-me no sofá e se jogou em seguida, lado a lado,
totalmente relaxadas de pernas abertas, meias desfiadas,
coturnos pisoteados, maquiagem escorrida.
Só ouviamos de relance comentários sujos de alguns caras.
.
Um se atreveu e soquei-o! A garota caíra deitada de lado no sofá,
antes se apoiava em mim.
Voltei, deitei sua cabeleira negra em meu colo e adormeci também.
.
Acordei caída sobre seu corpo, sentindo ela se movendo,
na tentativa de se levantar. Busquei refrigerante.
Na fila me aparece um cover bem feito de M.M,
olhou para mim...
Retribuí. Me beijou com fervura, tentou avançar... avançou,
mas na fila não pode-se fazer muito. Nem queria.
.
Voltei e a garota estava beijando o cabeludo que me beijou no início,
o que empurrei.
Me sentei um pouco longe e abri as duas latas,
o cara estava bem "animado".
Bebia uma lata e a outra... as duas pela metade.
Olhava. Esperava.
.
Começou a levantar sua saia, a blusa já estava quase toda.
Passava-lhe a mão comose fosse arrancar-lhe a carne.
.
E a garota ainda sonolenta, aérea.
Levantei, fui em direção reta, bebi o resto de uma lata e deixei a outra no chão.
Comecei a alisar os cabelos do cara, que nem me notou. Puxei.
Ele olhou para trás
e pegou-me pela cintura, me puxando para junto deles.
.
A garota me viu, afastou-se dos beijos e sorriu um sorriso mole.
Ele beijava seu pescoço e descia a mão por minha cintura.
Ao redor olhavam com reprovação,
outros estavam se deleitando.
.
Então puxei os cabelos do cara com força,
forçando-o a parar com as carícias.
A garota empurrou-o e puxou-me para si.
Não beijamos. Apenas levantei-me e lhe
ofereci o resto do refrigerente. Ela bebeu.
.
Enquanto isso o cara tentava algo comigo, sem sucesso.
Puxei a garota e voltamos para a pista.
Dançamos mais, estava quente, abafado. Não ficamos muito tempo.
Só o suficiente para esquentar mais... e mais...
.
Outra música! Boa! Mas nem queríamos ouvir, me puxou para um puff mais escondido
e alí ficamos. Ora cantando, ora falando, enfim...
.
O lugar foi esvaziando. Saímos. Andamos vagamente, já era dia.
Tomamos café da manhã numa padaria e sentamos na calçada.
Conversamos, trocamos contatos e finalmente sabia seu nome.
.
Quero te ver de novo, me disse.
Também queria muito vê-la outra vez.
Sentamos em uma escada perto do metrô e nos despedimos.
Mas ainda fomos juntas de metrô, nos separamos e...
Eu fiquei com suas luvas. Como haviam parado alí?
.
Pouco depois uma mensagem:
.
"Devolva minhas luvas!
Agora temos que nos ver.
Ah! Não sou lésbica!
Mas quero sair com você de novo!"
.
Respondi:
.
"Será um prazer!
Também não sou, apenas gosto das pessoas!
Não escolho por quem vou me atrair."
.
Noite louca aquela.
E gostaria que tivesse mais dessas.
Não exatamente igual.
Apenas loucas.
.
Responde:
.
"PS: Você é linda!"
.
E você, era exatamente o que eu estava precisando naquele momento.
Linda... e louca.

* Conto adaptado sobre um relato. Em homenagem a uma grande amiga. Como pedido, aqui está.


Bi Manson

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Somente uma xícara


Ele era o tudo e ao mesmo tempo o nada.
Como um vaso chinês que não se
cansa de admirar os detalhes.
Era vazio e completo.
Simples e intrigante.

Uma pessoa acostumada a ser admirada,
elogiada... endeusada.
Eis que entra em sua vida alguém
que apesar da "perfeição" que pensava ser,
não lhe deu muita atenção.

Sua perfeição imperfeita...
ou imperfeição perfeita.
Isso que o diferenciava.
Dissimulado.
Misterioso.
Controlador, dono do jogo.
No começo manipulou...
e acabou sendo
manipulado.

O dono do jogo se tornou
um mero jogador de quinta.
Amarrado.
Submisso,
ainda que relutante.

No fim, pedia para não lhe deixar,
em palavras implícitas.
Mas que ficaria bem se o fizesse.
Mas não esqueceu.

Os dias passados ao seu lado eram frios,
quentes,
todas as emoções em um só instante.
Mil afinidades,
mas tudo tão... normal.

Apesar de não ser um cara muito comum,
excêntrico!
Falava coisas que se gostaria de ouvir,
proporcionava experiências extra-sensoriais.
De outro mundo.

Só podia ser de outro mundo.
Porém se tornou enfadonho como qualquer outro
que cruza seu caminho.

O zero absoluto e todas as coisas não
explicáveis estavam em sua essencia.
Uma presença que marca mas que não
deixa rastros.
Estando ao seu lado sente-se uma certa saudade,
mas na sua ausência pode até não se lembrar de
sua existência.

Foi um último encontro que me fez conhecê-lo bem.
Apenas avistá-lo e ser avistada.
Nunca conheci alguém assim...

Que quando lembrado é um círculo vazio,
quando tocado se torna o inesgotável,
algo que não cansa de ser explorado,
de explorar.
Como se o círculo duplicasse
e no enlace se forma o símbolo do infinito.

Uma xícara de chá...
quente, aconchegante.
Um aroma indescritível,
um sabor inigualável.
Mas não passava disso,
de uma xícara de chá,
que esconde todo o prazer
em seu último gole.

Bi Manson