UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Caderno de notas


Abraço meu caderno e durmo
É ele que guarda meus segredos
Sonho com tudo aquilo que lhe conto

Escrevo frenéticamente
Fecho-o
Abraço-o como a um amante,
depois da noite de amor

Espero que nunca venha a me abandonar
Ou me trocar
Quem sabe absorveu meus pensamentos
E quem sabe passou a ter vontade própria
E se tornou um espelho
Prestes a me dominar

Jamais o quebraria
Pois sem ti não manifesto uma exclamação sequer

Não me revele
Pois eu me revelarei aos poucos
Sou eu quem abro-te e vou te despetalando
Fazendo-te público e menos meu
E mais de todos
Ainda assim sou você e você, eu

Me transcrevo para ti
Te transcrevo para o mundo
De forma a que somos algo único
A ser dividido e desmistificado

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Duplicado - E os anjos sobem

Estou vazia e com sono, como se houvessem me roubado algo.
Feliz? Sim, um pouco. Animada? Não.

Passaram por mim e levaram algo. Não sei o quê, mas sinto falta.

É como se o novo me irritasse, como se eu não desse os devidos espaços para que as coisas aconteçam, é o medo. Aquele medo que te faz se guardar em uma caixa mofada.

Vozes ao ouvido, como se pedissem socorro, era um quase sonho? Foi real? Me amedronta, me instiga, me faz encolher-me numa posição fetal. E então meu herói vem e me salva, aquele com quem partilho noites, dias, alegrias e tristezas. Revele seu nome e o tatuarei! Pela eternidade!

Não me amedronte, assim não poderei ajudá-lo. Não me chame na cena noturna em lugares vazios, na escuridão do meu quarto, enquanto tento repousar.

Se precisa de ajuda, o ajudarei, venha de outra forma. Se é maligno, somente rezarei por ti. Para ficar em seu lugar, para não me perturbar, também sei ser má e sei acabar com o seu sossego. Posso te mandar para o inferno, posso te tirar de lá.

Não me magoe e não me engane, pode ser começo de esquizofrenia, só um especialista pode diagnosticar.

Sei que alguém me guarda, que me protege e não deixa forças estranhas me atacar. Já me rendi a algumas experiências que julgo serem sobrenaturais, mas que necessitava no momento.

Pois esse momento passou e o oculto me encanta no papel e em suas letras miúdas. A simbologia me atrai. E só, energias a parte. Anjos no céu e demônios no inferno... eu aqui entre os dois mundos, me deixe em paz e seguir meu rumo.

Seria trágico acabar tendo uma doença mental por causa de vozes que perturbam, que existem e que sussurram... que podem não ser reais, mas são.

Não me confundem, já disse que o que cuida de mim me anestesia e não me deixa vulnerável. Pobre de vocês, que não tem a quem correr, nem quem cuide-os.

Pobre de vocês... seja lá qual for a intenção, rezo e peço a cura. Não cuidarei de vocês, não os abrigarei, não os salvarei, apenas quero me livrar do que pode se tornar um estorvo... para ambos.

Procurem a luz, não em mim, mesmo que pálida sei que os atrai. É uma cilada, eu posso ser pior do que aquilo que vocês temem, eu tenho força ao contrário de vocês.

Somente andem e não olhem para trás, tudo passa e os pesares cessam. Acreditem e verão.

Eu não sou a boa samaritana e não peço um desafio. Sumam e tomem seus respectivos rumos. Não posso te encarar, mas posso te destruir.

Mas não há nada que um divã e uma caixa de tarja preta não resolva. Acabo com vocês!


[Nero estava comigo. E sua lira não pôde tocar. Te revelo. Te decifro. Te queimo]

domingo, 5 de dezembro de 2010

Noticiário da madrugada, em algum lugar do mundo



Ontem, todos puderam ver na cena noturna
um dragão caindo dos céus
Gotas flamejantes em seus olhos cerrados
Apertados como se apartassem a dor

As chamas coloridas que passeavam pelos céus
E olhos coloridos dos espectadores
Que refletiam tudo o que acontecia

Os raios de luz caíam mais veloz
E a torre na qual o dragão tentava se segurar
Estava ruindo

De cabeça, a toda velocidade
As pessoas mais encantadas do que aterrorizadas

Na noite anterior foi quando apareceu pela primeira vez
Na noite estrelada, se segurando na torre
E cuspindo fogo para os céus
E um grito (urro) de agonia

A polícia e os bombeiros foram chamados
E tentaram controlar a fúria do ser durante 48 horas
Por medo do desconhecido, acabaram chamando as forças armadas
Que atiraram no dragão

Ele ainda tentou resistir por algumas horas
Agarrado na torre da grande igreja central
Alguns diziam que era a besta do apocalispse
Que era o portal do inferno que estava se abrindo

Não podendo mais aguentar, se soltou e foi caindo
Caindo sem esperanças
As pessoas não se moviam
Mesmo sabendo que poderiam ser esmagadas pela criatura gigante

Tudo parou naqueles segundos
E as crianças choravam sem gritar
Somente suas lágrimas
Incandescentes e coloridas pelos reflexos

As faíscas chegavam ao chão e não queimavam
Alguns somente foram atingidos pelas faíscas
Que penetravam no corpo das pessoas
Fazendo-as brilhar

O dragão foi rodopiando durante a queda
E um círculo se formou pelas pessoas
Afastando-se

Uma explosão colorida tomou conta da cidade escura
E o dragão caiu exatamente no espaço vazio
Houve um tremor muito forte
E o silêncio reinava dentro das pessoas

Somente o estrondo do corpo da criatura foi ouvido
Seus olhos ainda fechados lacrimejavam
Mas nenhum ruído saída de sua boca

Uma criança se aproxima e é reprimida
Mas ainda assim, hipnotizada
Arrastando os fios que a ligavam ao oxigênio
Descalça e com um bicho de pelúcia junto do corpo

Se solta calmamente dos guardas
E vai de encontro à grande fera desmaiada
Largando seu bichinho no chão

Estende uma das mãos e toca o corpo umido a sua frente
Uma luz toma conta de todos, como numa aurora boreal
Espalhando-se pela cidade com a força de uma tempestade
As pessoas somente se protegem e tentam encarar a luz

Tudo passa e a anestesia dos espectadores também
A garotinha caída no chão
E o tubo de oxigênio do lado oposto

Aparece o resgate e tenta reanimar a garota
Que acorda e sorri, se levanta e corre para o dragão
Todos gritam e tentam pará-la

Ela o abraça e diz: "Obrigada!"
Escala e chora sobre a cabeça da criatura
"Queria que estivesse bem", suas lágrimas
Caem nos olhos dele, fazendo-os brilhar

E a mãe desesperada e ao mesmo tempo confusa
Sua filha perfeitamente bem e sem o oxigênio, o soro
Correndo!

Alguns soldados correm para tirá-la de lá
E se ouve um gemido do dragão
Que cospe uma fumaça cinzenta
Agonizante

Estava vivo e já se preparavam para resgatar a garota
E atirar nele novamente
Até que a garota desce para a boca do dragão
E diz: "Calma! Vai ficar tudo bem, ninguém vai mais te machucar"

O dragão geme mais uma vez
E então se preparam para atirar
"Minha filha está lá!"
"Acalme-se senhora, um de nós está indo por trás para resgatá-la"

Mais um tiro e a garota despenca nos braços de um deles
Chorando, gritando...
"Bunny! Bunny! Não morra! Eu que o inventei, ele é meu!"
Ela corre de volta e grita em seus ouvidos
"Bunny! Viva! Voe Bunny!"

Nesse momento uma gota da lágrima desesperada da garota
Cai no ferimento e ele volta a se mover, levando mais tiros
Soltando um fogo vermelho e com sangue nos olhos
Pegou a garota com a boca e voou

Todos desesperados, helicópteros tentavam detê-lo
E a menina dizendo aos pilotos
"Está tudo bem, vou com ele, ninguém entende que o amo!
Ele é bonzinho e não fará mal algum!"

Voaram e luzes coloridas voltavam a iluminar os céus
E pó colorido a cair sobre a cidade
Tudo tomou brilho e cor novamente
Todos boquiabertos e anestesiados
A garotinha gritando 'Iupiiiiii!'

A magia tinha voltado e agora retornavam ao chão
A menina vestida com seu macacão rosa
Segurando-se ao seu amigo 'imaginário'
O abraça e logo vira para sua mãe
"Ele voltou! Posso ficar com ele?"

Ela somente balbucia: "Ppp-ode!"

Naquela noite todos puderam perceber que já não tinham doenças
Não sentiam pesar algum e foram curados pelo desconhecido
Pelo que temiam e atacavam

A criança que nada entendia do mundo dos adultos
Não conseguia compreender o porquê de tanta hostilidade
Só desejava que todos fossem como ela
Que amassem o que não conhecia, o que era novo

Que nem tudo é feito de violência, de traição
Queria que todos vivessem felizes
Enxergando através dos olhos inocentes de uma criança