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sábado, 13 de setembro de 2014

O tempo, o ócio e o vento

  

Dalí de cima, o tempo não passava. Eu via tanto ao meu redor... tantos pedaços. Sentado na pedra mais alta, contra o vento morno. Ali ouvia sussurros, ouvia todos os sussurros do mundo.

Me espreguiçava e meus olhos umedeciam. O sol tentava trocar algumas palavras, o máximo que conseguiu foi me fazer fechar os olhos, numa careta ensolarada.

A falta do que fazer me fazia-me admirar as ondas lá embaixo, como cada curva lembravam aquelas camadas que escondiam as pernas das damas de outrora.

Belas damas! belos trunfos escondidos nas mangas!

Pendi minha cabeça pesada e cheia de problemas sobre meu braço. Eu queria paz, eu tinha, o que me faltava agora? As damas lá embaixo parecem me chamar para brincar entre as camadas de tecido.

Eu não quero é nada, o vento, o ócio, o tempo.

O tempo que pára.
O vento que sopra.
E o ócio que os move vagarosamente.

As aves que passavam em voos rasantes, como tentativa de me despertar. Ah! Já disse, não quero nada! E nem o nada me quer. Ele quer um outro nada, que o faça descansar de sua obrigação de nada afzer.

E o sono... a cada vez que piscava meus olhos me vinha a imagem do meu amigo. Aquele que me deixava sempre a esperar e... Nada.

Minha vida em si é um grande vazio. Um tempo sem vento, o ócio e o lamento.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um dia... há de ser.



Sua beleza e excentricidade encerravam-se em si mesma. Horas frias da madrugada, pela cidade a vagar, pelas alcovas a entrar. Era dona de uma beleza rara, dotada de tons escuros e amargos.

O afago que a desejava, a boca que a tomava, o corpo que lhe reclinava. Tantos eram os rapazes, tantos eram os prazeres. Onde passava se fazia notar, seu esplendor era de matar.

Recebia elogios, flores e pedidos. Ainda assim seus olhos inexpressivos perdiam o brilho a cada piscar. Sua janela, sua companheira de espera, espera por algo, que para ela não existia.

Seus encantos, tantos e tantos. E seu pranto, sofrido pranto. De dama vistosa que nunca seria amada. De mulher independente que no fundo não era respeitada. De admiradora de muitos que ao fundo de uma bela imagem não passava.

Diziam-lhe os rapazes, que seus gestos eram fugazes, ferozes e selvagens. Efêmera era sua passagem, na vida de cada moço, cada jovem ou ancião... Ninguém a guardava, não. Era dama exótica de palavras bem colocadas, era moça irreverente de olhar atraente, era garota inocente e era mulher madura e reluzente. 

Para amores rápidos de tudo servia, para se ter ao lado a jóia, a fantasia, para se deliciar em sua alcova a dama servia. Para amá-la ninguém a queria.

Sentava em sua janela e pensava chorosa: "Que vida é essa, sou bela, formosa! De troféu me fazem bem, mas de esposa...? oh morrerei sem... Sou um pavão, um enfeite, uma mostra. Sou uma obra de arte, um quadro ou aposta. Sou o ouro no anel do barão, sou a seda da gravata do homem polido, sou a mulher ao seu lado que lhe faço brilhar... Mas haverá um dia alguém de me amar?".

Noite adentro a dama esperava, pela noite fria andava depressa. Procurava carinho no braço de estranhos, procurava um brilho em seus olhos castanhos. De nada valia ser tão subversiva, tão livre e tão decidida. 

Se todos os seus casos na mesma frase acabavam: "Minha esposa me espera, não posso deixá-la. Você é incrível alguém virá para amá-la.".

Era aceita. Era eleita. Era perfeita. Ninguém a rejeita. Ninguém a vê além do que se pode. Os preconceitos haviam a jogado no limbo. Onde os homens passam e admiram, porém nenhum a estenderá a mão. Era só ela e seu vazio coração.

Era uma mulher exótica e por isso sozinha. A beleza que se encerra no mesmo instante em que admira.