UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Caderno de notas


Abraço meu caderno e durmo
É ele que guarda meus segredos
Sonho com tudo aquilo que lhe conto

Escrevo frenéticamente
Fecho-o
Abraço-o como a um amante,
depois da noite de amor

Espero que nunca venha a me abandonar
Ou me trocar
Quem sabe absorveu meus pensamentos
E quem sabe passou a ter vontade própria
E se tornou um espelho
Prestes a me dominar

Jamais o quebraria
Pois sem ti não manifesto uma exclamação sequer

Não me revele
Pois eu me revelarei aos poucos
Sou eu quem abro-te e vou te despetalando
Fazendo-te público e menos meu
E mais de todos
Ainda assim sou você e você, eu

Me transcrevo para ti
Te transcrevo para o mundo
De forma a que somos algo único
A ser dividido e desmistificado

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Duplicado - E os anjos sobem

Estou vazia e com sono, como se houvessem me roubado algo.
Feliz? Sim, um pouco. Animada? Não.

Passaram por mim e levaram algo. Não sei o quê, mas sinto falta.

É como se o novo me irritasse, como se eu não desse os devidos espaços para que as coisas aconteçam, é o medo. Aquele medo que te faz se guardar em uma caixa mofada.

Vozes ao ouvido, como se pedissem socorro, era um quase sonho? Foi real? Me amedronta, me instiga, me faz encolher-me numa posição fetal. E então meu herói vem e me salva, aquele com quem partilho noites, dias, alegrias e tristezas. Revele seu nome e o tatuarei! Pela eternidade!

Não me amedronte, assim não poderei ajudá-lo. Não me chame na cena noturna em lugares vazios, na escuridão do meu quarto, enquanto tento repousar.

Se precisa de ajuda, o ajudarei, venha de outra forma. Se é maligno, somente rezarei por ti. Para ficar em seu lugar, para não me perturbar, também sei ser má e sei acabar com o seu sossego. Posso te mandar para o inferno, posso te tirar de lá.

Não me magoe e não me engane, pode ser começo de esquizofrenia, só um especialista pode diagnosticar.

Sei que alguém me guarda, que me protege e não deixa forças estranhas me atacar. Já me rendi a algumas experiências que julgo serem sobrenaturais, mas que necessitava no momento.

Pois esse momento passou e o oculto me encanta no papel e em suas letras miúdas. A simbologia me atrai. E só, energias a parte. Anjos no céu e demônios no inferno... eu aqui entre os dois mundos, me deixe em paz e seguir meu rumo.

Seria trágico acabar tendo uma doença mental por causa de vozes que perturbam, que existem e que sussurram... que podem não ser reais, mas são.

Não me confundem, já disse que o que cuida de mim me anestesia e não me deixa vulnerável. Pobre de vocês, que não tem a quem correr, nem quem cuide-os.

Pobre de vocês... seja lá qual for a intenção, rezo e peço a cura. Não cuidarei de vocês, não os abrigarei, não os salvarei, apenas quero me livrar do que pode se tornar um estorvo... para ambos.

Procurem a luz, não em mim, mesmo que pálida sei que os atrai. É uma cilada, eu posso ser pior do que aquilo que vocês temem, eu tenho força ao contrário de vocês.

Somente andem e não olhem para trás, tudo passa e os pesares cessam. Acreditem e verão.

Eu não sou a boa samaritana e não peço um desafio. Sumam e tomem seus respectivos rumos. Não posso te encarar, mas posso te destruir.

Mas não há nada que um divã e uma caixa de tarja preta não resolva. Acabo com vocês!


[Nero estava comigo. E sua lira não pôde tocar. Te revelo. Te decifro. Te queimo]

domingo, 5 de dezembro de 2010

Noticiário da madrugada, em algum lugar do mundo



Ontem, todos puderam ver na cena noturna
um dragão caindo dos céus
Gotas flamejantes em seus olhos cerrados
Apertados como se apartassem a dor

As chamas coloridas que passeavam pelos céus
E olhos coloridos dos espectadores
Que refletiam tudo o que acontecia

Os raios de luz caíam mais veloz
E a torre na qual o dragão tentava se segurar
Estava ruindo

De cabeça, a toda velocidade
As pessoas mais encantadas do que aterrorizadas

Na noite anterior foi quando apareceu pela primeira vez
Na noite estrelada, se segurando na torre
E cuspindo fogo para os céus
E um grito (urro) de agonia

A polícia e os bombeiros foram chamados
E tentaram controlar a fúria do ser durante 48 horas
Por medo do desconhecido, acabaram chamando as forças armadas
Que atiraram no dragão

Ele ainda tentou resistir por algumas horas
Agarrado na torre da grande igreja central
Alguns diziam que era a besta do apocalispse
Que era o portal do inferno que estava se abrindo

Não podendo mais aguentar, se soltou e foi caindo
Caindo sem esperanças
As pessoas não se moviam
Mesmo sabendo que poderiam ser esmagadas pela criatura gigante

Tudo parou naqueles segundos
E as crianças choravam sem gritar
Somente suas lágrimas
Incandescentes e coloridas pelos reflexos

As faíscas chegavam ao chão e não queimavam
Alguns somente foram atingidos pelas faíscas
Que penetravam no corpo das pessoas
Fazendo-as brilhar

O dragão foi rodopiando durante a queda
E um círculo se formou pelas pessoas
Afastando-se

Uma explosão colorida tomou conta da cidade escura
E o dragão caiu exatamente no espaço vazio
Houve um tremor muito forte
E o silêncio reinava dentro das pessoas

Somente o estrondo do corpo da criatura foi ouvido
Seus olhos ainda fechados lacrimejavam
Mas nenhum ruído saída de sua boca

Uma criança se aproxima e é reprimida
Mas ainda assim, hipnotizada
Arrastando os fios que a ligavam ao oxigênio
Descalça e com um bicho de pelúcia junto do corpo

Se solta calmamente dos guardas
E vai de encontro à grande fera desmaiada
Largando seu bichinho no chão

Estende uma das mãos e toca o corpo umido a sua frente
Uma luz toma conta de todos, como numa aurora boreal
Espalhando-se pela cidade com a força de uma tempestade
As pessoas somente se protegem e tentam encarar a luz

Tudo passa e a anestesia dos espectadores também
A garotinha caída no chão
E o tubo de oxigênio do lado oposto

Aparece o resgate e tenta reanimar a garota
Que acorda e sorri, se levanta e corre para o dragão
Todos gritam e tentam pará-la

Ela o abraça e diz: "Obrigada!"
Escala e chora sobre a cabeça da criatura
"Queria que estivesse bem", suas lágrimas
Caem nos olhos dele, fazendo-os brilhar

E a mãe desesperada e ao mesmo tempo confusa
Sua filha perfeitamente bem e sem o oxigênio, o soro
Correndo!

Alguns soldados correm para tirá-la de lá
E se ouve um gemido do dragão
Que cospe uma fumaça cinzenta
Agonizante

Estava vivo e já se preparavam para resgatar a garota
E atirar nele novamente
Até que a garota desce para a boca do dragão
E diz: "Calma! Vai ficar tudo bem, ninguém vai mais te machucar"

O dragão geme mais uma vez
E então se preparam para atirar
"Minha filha está lá!"
"Acalme-se senhora, um de nós está indo por trás para resgatá-la"

Mais um tiro e a garota despenca nos braços de um deles
Chorando, gritando...
"Bunny! Bunny! Não morra! Eu que o inventei, ele é meu!"
Ela corre de volta e grita em seus ouvidos
"Bunny! Viva! Voe Bunny!"

Nesse momento uma gota da lágrima desesperada da garota
Cai no ferimento e ele volta a se mover, levando mais tiros
Soltando um fogo vermelho e com sangue nos olhos
Pegou a garota com a boca e voou

Todos desesperados, helicópteros tentavam detê-lo
E a menina dizendo aos pilotos
"Está tudo bem, vou com ele, ninguém entende que o amo!
Ele é bonzinho e não fará mal algum!"

Voaram e luzes coloridas voltavam a iluminar os céus
E pó colorido a cair sobre a cidade
Tudo tomou brilho e cor novamente
Todos boquiabertos e anestesiados
A garotinha gritando 'Iupiiiiii!'

A magia tinha voltado e agora retornavam ao chão
A menina vestida com seu macacão rosa
Segurando-se ao seu amigo 'imaginário'
O abraça e logo vira para sua mãe
"Ele voltou! Posso ficar com ele?"

Ela somente balbucia: "Ppp-ode!"

Naquela noite todos puderam perceber que já não tinham doenças
Não sentiam pesar algum e foram curados pelo desconhecido
Pelo que temiam e atacavam

A criança que nada entendia do mundo dos adultos
Não conseguia compreender o porquê de tanta hostilidade
Só desejava que todos fossem como ela
Que amassem o que não conhecia, o que era novo

Que nem tudo é feito de violência, de traição
Queria que todos vivessem felizes
Enxergando através dos olhos inocentes de uma criança

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Chamam-no anjo

Botão de rosa branca
Assim como poderia lhe descrever
Luz branca que adentrava pela janela

Estava perdido
Estava a me chamar
Ouvia vagamente

Seus risos
Não entendia-os
Estenda-me suas mãos
Não te vejo

Era somente uma luz a me olhar
Gritos incessantes,
Atravessavam meus tímpanos

Em outra dimensão...
Estava morto, querido

Vinde a mim
Cuidarei de sua alma
Te rezo mil preces
Te jogo um encanto

Mil anjos caíram contigo
Mas fora o escolhido
Cortaram-lhe as asas
Roubaram-lhe a alma

Pregaram-te na cruz
E eu não posso mais sentir
Uma parte de mim se foi

Os matarei!
E guardarei a besta em mim
Sou o pesadelo
Uma sucubus que os atraiu

Venha meu anjo
Deixe-me curá-lo
Segurar tuas mãos
Atar os nós de suas memórias

Anda esquecendo-se
De quem fora um dia
Um pobre mortal
Ainda sou assim como me fizeste

Me salva que te salvo das feras
E das descrenças
Das mentiras
Dos exageros

Eu sei que pede socorro
Calado e sombrio
Levante-se e volte
Venha me iluminar

És meu anjo
Para todo o sempre
E sou a tua fera
A ser domada

Caminhemos juntos
Sangue vermelho
Mãos entrelaçadas
Olhos risonhos
Sozinhos e salvos
Para o fim da estrada


*Lembrou-me depois essa música:



[Eu Perdoei Jesus] [I have forgiven Jesus]

Eu fui um bom garoto
Eu não te faria nenhum dano
Eu fui um garoto legal
Com uma rota legal de entrega de jornais
Perdoe-me qualquer dor
Que eu possa ter te trazido
Com ajuda de Deus, eu sei
Sempre estarei perto de você

Mas Jesus me magoou
Quando me abandonou, mas
Eu perdoei Jesus
Por todo o desejo
Que ele colocou em mim
Quando não há nada que eu possa fazer
Com esse desejo

Eu fui um bom garoto
Através do granizo e da neve
Eu iria apenas para te ultrajar
Eu carreguei meu coração em minhas mãos
Você compreende?
Você compreende?

Mas Jesus me magoou
Quando me abandonou, mas
Eu perdoei Jesus
Por todo o amor
Que ele colocou em mim
Quando não há ninguém para quem eu possa me voltar
Com este amor

Segunda - humilhação
Terça - sufocamento
Quarta - condescendência
Quinta - é patético
Lá pela sexta - a vida me matou
Lá pela sexta - a vida me matou
(Oh, lindo,
Oh, lindo)

Por que você me deu tanto desejo?
Quando não tenho aonde ir
Para descarregar este desejo?
E por que você me deu tanto amor
Num mundo sem amor
Quando não há ninguém para quem eu possa voltar
Para liberar todo esse amor?

E por que você me mutila
Com ossos e pele auto-depreciativos?
Jesus, você me odeia?
Por que você me mutila
Com ossos e pele auto-depreciativos?
Você me odeia?
Você me odeia?
Você me odeia?
Você me odeia?
Você me odeia?

domingo, 21 de novembro de 2010

Nero [e eu]


Nero me queima
Com a loucura nos olhos
Tocando sua lira
E com um sorriso incandescente

Nero me acendeu
E me pôs a dançar
Com uma das mãos me girava
Ainda a tocar

Incitava o caos
O fogo se alastrando
Senhoras pedindo
'Salvem a moça'

Me deixem queimar
Queimo em rodopios
Nero, querido
Toque outra nota

Está louca
Está morrendo
Dançando loucamente

Trouxe-me uma taça de vinho
'Beba, querida'
E o fogo consumia
E o corpo ardia

Toma-me!
Toca-me!
Queima-me!

Nero está em chamas...
E deseja queimar tudo ao seu redor

E o fogo consome
O monumento
A cidade
O homem

Nero dos olhos vermelhos
Do corpo queimado
Da lira em cinzas

Poeira nos ventos
Era Nero e eu
Loucos amantes do fogo

Tudo ruíra
Como nossa mente no chumbo
Como o vinho se espalhando
No silêncio taciturno

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lembra-te Dolores?


A manivela que girava a máquina
Girava todas as engrenagens
Girava ao meu redor
Projetava sua imagem

Na praia correndo
Acena pra câmera
E mostrava a língua

Garota pura
Que nunca irá me amar
Tira o soutien do biquíni
E corre direto pro mar

Lolita me espere!
Levanto gritando
A câmera vai ao chão
E a fita gravando

Com as tranças a rodar
A meninice desgastada
Era só ela e o mar
Era a praia e a enseada

Ela pulava em mim
E a fazia girar
Tão leve e angelical
Quem a chamaria vulgar?

Onda vai e onda vem
Meus olhos marejam
Preta fica a tela
Mas lá fora as plantas verdejam

Pois lá está
Lolita a pular
É somente uma lembrança
A levada e inquieta criança

Lolita onde estará?
E eu que nem mais vivo
Fiz a vida parar

Pare a sua, querida
Seja sempre a menina
Minha Lo, minha ninfa

Tenho mulheres
Crescidas, adultas
Mas nada me serve
A dama, a culta

Maldito sou
Um pederasta
Eu queria matá-la
Como nos filmes

Não seria mais abusada
Lo, quanta dor eu sinto
Por pensar, por sentir
Lo, estou doente

Demente...
Mataria...
Lo...
Minha Lo...

Estou morto aqui
Volte e me enterre
Em você, querida
Em sua ferida

Curemos
Um ao outro
Matemos desejos
Vivemos de novo

Aperte o replay
Tudo de novo
E sua boca de cereja
Ela lembrará o caminho

Sozinhos
Sem mundo
Sem tempo
Somente nós
Em nós mesmos

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tela à mostra


A sua arte me cega
Sou obrigada a seguir tocando
Procurando na escuridão

Qual será a beleza revelada?
Ou não passará de uma maçã podre?
Ainda assim, bela

Sensível, aterradora
Comum, conceitual

Me diga qual o seu preceito
E eu te digo, é tudo igual

A sua arte me cega
Ela segue a mesma regra
Me acolhe e me entrega

A sua arte me estraga!

Me rasga, me espalha
É o poço do ócio
É pura migalha

Puramente híbrida
Libidinosamente frígida

Se esparrama e se recolhe
Seu desenho me escolhe
Me risca por inteiro
Sem borracha e sem permeio

É por isso que anseio
Sua arte é devaneio!

Ela vem me consumir
Na escuridão dentro de ti
Passa por mim num feixo de luz

És tu, seu cão andaluz!

Ainda vai me matar,
Essa coisa de pintar no escuro
De virar meu mundo
E me fazer teu escudo

A sua arte me denigre
Nua aos seus pés
Como se fosse somente sua
E ousa chamar-me santa

Ela ainda me romperá
E te jogarei ao mar
Junto com suas molduras
E suas tintas desvanecidas

Destruirei ainda tuas obras
Telas, cavaletes e pincéis

Atearei fogo em seu ateliê
Sua arte me enoja
Me fascina e me encoraja
Me confunde, me apavora

Sua arte é vulgar!
Desejo tonto e fugaz
Que se levante e se vá
Cansado, de tanto me amar

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

_fragmentos: Outubro

[...]
E eu perguntei à ele, qual era o segredo para se manter bem, feliz, sem abalos durante o dia:
"Administre placebos a cada vinte e duas horas, assim atinge-se a estabilidade emocional". Parece fazer algum sentido, já tenho meus placebos, somente usá-los. Terminei a oração.

♪:
"Tente despertar
Do sono escuro onde você se acomodou
Um dia quero ouvir a sua voz bem alta
E não ter que sentir pena..." [Luxúria], que anda descrevendo os fatos.

E o mês foi propício:

Morgenstern - Rammstein
Te Quiero Puta - Rammstein
Super Taranta! - Gogol Bordello
Super Theory of super Everything - Gogol Bordello
Catch - The Cure
The 13th - The Cure
Maria - Blondie
Strange Love - Koop
A Dama de Ouro - Zéu Britto
Tu Vuo' Fa' Americano - Renato Carosone
Elephant Gun - Beirut

Mais Gipsy impossível e Frida Kahlo ficou me atordoando com suas cores vibrantes e sua bissexualidade assumida.

Livro:
Abandonado após cinco páginas, há sete anos atrás. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley. Quase no fim e ansiando pelo meu querido Darwin (A Origem das Espécies)!

Por aí, o que eu vejo são pessoas sós, cada uma é só uma unidade que não compõe um todo. Ninguém nem vê a cidade, nem quem nela mora. Eu ainda tento me sentir parte dela, a cada passo. E deixando a timidez escessiva de lado. Músicas para a alma e para o corpo nas noitadas por aí.

As que eu nem podia ouvir:

Like a Hurricane - The Mission
Dancing Barefoot - The Mission (Patti Smith cover)

Duendes queridos!! Me enlouquecem e me ajudam! Mais maçãs próximo mês!!
E mais surpresas!

[...]
Mas somente placebo, é paliativo não? - Pergunto.
- Sim, encontre sua cura! Sabe que ela está mais perto do que imagina. Sabe que precisa reagir. Eu sou somente um anjo, te cuido enquanto se aventura, no escuro, no claro, na chuva...



_fragmentos: Outubro

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Óculos



Meus óculos permitem vê-lo.
São mágicos, mas necessitam reparo.
Ultimamente opacos. E quando os tiro, o breu se faz.

Não importa para onde tento olhar.
Sempre tem algo incômodo, querendo me cegar.

Não quero ter que tirá-los e ficar no breu.
E as luzes não se deixam alcançar.
Fogem de minha retina.

Antes enxergava perfeitamente.
Sem óculos mágicos, sem opacidade.
Contemplava a bela figura, o dia todo.

Agora não prestam mais.
Terei que me desfazer...
Pena, era tão bonito!

Eu caminho e nada vejo. Nada me interessa.
Mas alguém veio em minha direção.
Parou em frente a mim.
E tudo tomou um novo rumo.

Eu andava cabisbaixa e a luz refletida não me permitia ver.
Esse alguém me ergueu o queixo. E me limpou as lentes.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Christine

Sou feita de exagero e drama
Ruim de fogão e boa de cama
Aquela que ama e desama

O nome por quem ele chama
Cheia de planos e tramas
Coberta de flores
Coberta de lama

À noite sem rumo e sem grana
Pomposa feito uma dama
Quem vê até se estranha

Me deito na grama
Me deito com ele
E ele me ama

A namorada nem sonha
Em sua casa, em sua cama
Enquanto ele se banha
A noite passa e não me acanha

Cheio de manias, cheio de manha
Me faz um drinque
Me beija e me ganha

"Christine! Christine!
Acorda!
Se manda!"

Suja estou
De luxúria, de lama
Como uma top model
Auge da vida, auge da fama

E assim chega de banda
A namorada, a primeira dama
Ele me olha
E sabe da barganha

Primeiro o dinheiro
"Toma Christine!
Anda, anda!"

E pulo a janela
Corro descalça na grama
Ele me ama! Ele me ama!

Ele me tem
Ele me manda
Ele é quem pede
Ele comanda

É aqui fora a vida sacana
Ora me bate, ora apanha
E aqui sei que não tem manha
Ela me vende ela me compra

Mas aquele é o meu gato
E é em mim que ele gama
Na rua, no beco
Na cozinha ou na cama

Sou Christine, a destemida
Sarcástica e bacana
A pobre garota
Que a todos engana

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um anjo que morreu de raiva



Um anjo que morreu de raiva... Assim foi queimado pelo seu ódio.
Tentando acreditar que tudo se resolveria, que daria certo.
Permitiu dar-lhe quantas chances fossem precisas e falhou em todas elas.
Ele olhava precipício abaixo, balançava. Sua garganta seca.

O vento forte empurrava seu corpo, que resistia.
Uma pedra cai e se estoura no chão, lá longe.
Gritava como se fosse explodir.
Tudo saira de seus planos. Tudo foi pelos ares.

Uma bomba atômica em sua vida.
E o amor que nunca existiu, jamais lhe apareceria.
Ele tentou acreditar, tentou se entregar.
E acabou com uma grande lança no peito.

Sua ferida aberta e exposta ao sol.
Mas a dor não era maior que seu ódio corrosivo.
Corroía tudo e se preparava para tomar sua vida.
Balançou e seus pés não o deixaram escorregar.

Sentia medo e vontade. Queria de vez acabar.
Seu corpo a oscilar e seus gritos a se calar.
O sangue lhe escorria e a roupa colava e quase se arrebentava.

Deu um último urro! Olhou para os céus e blasfemou.
Renunciou tudo e todos. Arrancou a lança e jogou-a em Deus.
Respirou ofegante e seus sentidos se perderam.
Deu um impulso e pulou!

De olhos fechados sentia o vento passar dentro de si.
A pressão do ar contra seu corpo e a gravidade.
Tudo passava pela sua cabeça e pensou que já se separava de sua alma.
O peito se apertou e a queda foi inevitável.

Mas suas asas se abriram. E ele voou.
Foi pairando e a consciência voltando.
A lança atravessou suas mãos.
E ele agradeceu.


* Baseado na música "Ódio", Luxúria.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A garota do ônibus



Linda, me sorri de uma forma alegre. Assim ela entra no ônibus.
Encontra imediatamente meus olhos. Me conhecia?
Claro que não.
Mas me encantava.

Horário de pico. Multidão. E ela sorri, timidamente.
Eu me encolho, seus olhos pareciam me corroer.
Ai que dor apetitosa!

Abaxei a cabeça. E não vejo mais seu rosto. Logo vai se esvaziando.
Ouço o giro da catraca e ela está ao meu lado, em pé.

Temo olhar para cima e ela estar me olhando.
Ai que vergonha!
Linda...

Ela aproveita as curvas mal feitas para roçar suas pernas nas minhas.
Para me tocar. Fito-a inteiramente.

Belo corpo. Bela roupa. Bela garota.

Com seus um metro e setenta e poucos, seus cabelos louros e um ar não tão feminino.
Mas era encantadora a figura.
Morreria admirando-a.

Foi indo para o fundo do ônibus e meus olhos famintos a procuravam.
Encontrei.
Levantei-me e fui me espremendo entre os passageiros.

Então fiquei de costas pra ela. E a curva vinha e seu corpo vinha junto.
Sentia seu perfume e via sua silhueta no vidro refletida.

Sentou-se e a situação se invertera.
Curva vem e minhas pernas vão, quase que querendo enlaçar com as suas.
Disse algo.

Tiro os fones para ouví-la. "Quer que eu segure a mochila?".
Não, valeu, já vou descer gata!
É o que respondo e vejo o último sorriso.

Em minha mente já me martirizava,
quase que jogo para o alto meus compromissos e fico alí,
esperando o banco ao seu lado ficar vago.

Gata... Cheguei no meu destino.
Desço e arrumando a mochila ainda olho para dentro do ônibus.

Há! Estava ela a olhar, foi o último sorriso desperdiçado somente pra mim.
Naquele momento ela foi para mim,
só para mim
e eu me sentia a pessoa mais iluminada e sortuda do mundo.

Por um sorriso, apenas um sorriso...
Mas o acaso é assim mesmo.
Pena não ter sido em outro lugar, outra hora.
Ou pelo menos outra situação.

Linda linda linda!
Valeu-me o dia!
Valeu-me a ida!

Era um anjo!
Era um anjo!
Era um ANJO!

domingo, 3 de outubro de 2010

Constantino


Alma minha logo eu choro
Sonho contigo e me devoro
Logo surge a me chamar
Clamo a ti no meu ninar
Busco a ti em meus momentos de vazio
Pensando em ti aqueço meu corpo frio
Lembro do teu semblante sóbrio
E que aumenta minha libido
Alimento meu desejo platônico
Ouça a sinfonia de minh'alma
Cantemos juntos nossas lágrimas
Despejemos nossas mágoas
Em um copo de absinto
Deite-se comigo e me mostre teu encanto
Lamentarei quando levantar e não ver teu corpo
Logo eu vivo
Logo eu morro

*Uma homenagem ultra-romântica, encontrei amassado um dia desses, com razão rsrs. Não é do meu feitio escrever coisas tão explíitas (em relação a sentimentos), prefiro a tríade ambigüidade-mistério-confusão.

Ah! Ela...


Ela está escrevendo.
Ela é tão bonita.
Dorme com uma mão no rosto.
Ninguém disse a ela,
que é tão linda e tão vazia.

Anda com seus fones e música alta.
Um casaco pesado.
Atravessa sem olhar para os lados,
passos largos.

Hoje ninguém disse a ela que é bonita.
Pega um papel no chão e põe no bolso.
Está sempre com a cara séria.
Olhando pela janela do ônibus
e pensando...
Oh! Ela é tão vazia!

Nos shows agitando a cabeça,
e acompanhando a música.
Os movimentos delicados
ao abrir um bombom.

Ela é brilhante.
E se entedia com qualquer coisa.
Debaixo do sol ela fecha seus olhos.
Revira a bolsa e acende um cigarro.
Tão bonita e ninguém vai dizer...

Quando se entristece revira o quarto,
procura seus cadernos
e organiza seus papéis
Nas baladas ela canta para si mesma
e procura sempre alguém
Anda sem rumo e pensativa.
Ela é tão vazia...

Ela é radiante!
Devia vê-la ao sair do banho.
Olha para a lua e faz mil pedidos.
Sua face às vezes cora.
Meu Deus como ela brilha!

Se olha no espelho às vezes
e parece não gostar...
se reconhecer, às vezes sim...

Imagina tantas coisas...
Ri poucas vezes.
Pensa ser invisível.
Ela é tão linda...
E nunca ninguém disse a ela.

domingo, 26 de setembro de 2010

Surrealismos

Quantas gotas de surrealismo cabem em sua mente?
Só sei que a minha vem transbordando. Desde transtornos que me fazem ter certas alucinações imaginárias, até situações inusitadas que eu crio para me distrair. Salvador Dalí me entenderia... Me possua Dalí! (Rs) Deixe-me ser seu veículo de loucura aqui na Terra. Bom, Dalinismos à parte...

Um dia acordo e meu vizinho da frente é meu maior ídolo. Marilyn Manson em sua versão Sr. Brian Warner me aparece acenando pela janela e sorrindo, logo pela manhã, enquanto eu dou um aceno tímido e coro imediatamente. Num outro estava alí, lavando seu carro na frente da garagem, sem camisa e eu olhando pela vidraça. Noutro saía de toalha com o cabelo molhado, para apanhar o jornal, o cachorro o lambia e eu espiando, ele me vê e acena. Surreal, tão surreal que não seria de seu feitio tais coisas, até porque é tímido como eu.

Ouvir músicas e criar clipes e momentos em sua cabeça. Acho que deveria fazer rádio e tv... Não, minhas idéias não passariam de mau gosto, acho que a arquitetura é o lugar certo para exorcizar e exteriorizar esses desejos incontidos que um dia poderiam se tornar montros. É a arte meu querido, é ela que me chama sempre... mas sou tímida demais para ela e decidida demais para meu outro amor, o eterno, o científico e animalesco... selvagem!

Meu último pensamento surreal, show do Rammstein à vista, dominando completamente minha playlist, ansiedade. Amour, Amour! Eis que a imaginação vem à tona e tudo começa... O local: uma dessas casas de shows onde acontecem apresentações de tango argentino, predominantemente vinho, iluminação quente, aconchegante e vintage. Um palco, um bar à esquerda, uma única mesa na platéia, com sete lugares. A música: Amour, Rammstein. No palco: Till Lindemann nos vocais; Oliver Riedel no baixo; Flake nos teclados; Doom na bateria; Paul Landers E Richard Kruspe nas guitarras, todos vestidos com terno preto risca de giz e uma rosa vermelha no bolso, no melhor estilo latino. Na platéia: eu, vestido preto, rosa vermelha no coque.

A música começa (dê o play!), seis corações cantando a maldição do amor. Começa o show, eu a assistir.

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie atmet dich, sie sucht nach dir
Nistet auf gebrochenem Herz
Und geht auf Jagd bei Kuss und Kerzen
Saugt sich fest an deinen Lippen
Gräbt sich dinge durch die Rippen
Lässt sich fallen, weiss wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Till, desce do palco e caminha lentamente em minha direção. Levanto-me e ouço-o cantar para mim, segurando em minhas mãos e me fazendo girar, me mover:

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie beißt und kratzt und tritt nach mir
Hält mich mit tausend Armen fest
Zerrt mich in ihr Liebesnest

Frisst mich auf mit Haut und Haaren
Und wirbt mich wieder aus nach Tag und Jahr
Lässt sich fallen, weich wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh


Arranca-me o lenço do pescoço, começando o refrão no meu ouvido e depois vai se distanciando, voltando ao palco com o lenço apertado entre os dedos:

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Todos me encaram de uma forma sedutora e amarga, me sento e seguro a taça de martini mexendo-a, olhando de forma instigante:

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie atmet dich, sie sucht nach dir
Nistet auf gebrochenem Herz
Und geht auf Jagd bei Kuss und Kerzen
Frisst mich auf mit Haut und Haaren
Und wirbt mich wieder aus nach Tag und Jahr
Lässt sich fallen, weiss wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh


Provo o martini e os observo olhando por cima da taça, Till ainda com o lenço, apertando-o e ergendo-o com o punho fechado:

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Estava envenenado, me engasgo e levanto com dificuldade, com as mãos na garganta e com o olhar neles, a clamar por socorro:

Die Liebe ist ein wildes Tier
In die Falle gehst du ihr
In die Augen starrt sie dir
Verzaubert wenn ihr Blick dich trifft


As pernas já não respondem, me apoio e puxo a toalha da mesa, indo ao chão, estendendo uma das mãos aos seis cavalheiros e percorrendo com os olhos a expressão indiferente de cada um deles. Me desepero e tento arranjar ar:

Die Liebe
Die Liebe ist ein wildes Tier
In die Falle gehst du ihr
In die Augen starrt sie dir
Verzaubert wenn ihr Blick dich trifft


Meu coração dói, me rastejo. Minhas veias saltadas e as unhas sangram, arranhando o chão e a garganta, me debato e tremo, ainda com uma das mãos estendidas clamando por um último suspiro... :

Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift


Em vão. Till solta o lenço e se vira para seus companheiros.

O Fim


Imagino toda vez que ouço essa música, já se tornou um Déjà vu. Um dia amadureço mentalmente enquanto isso deixa ela brincar e inventar, isso realmente me acalma e me distrai. Essas coisas nem são tão surreais, bom, dependendo do ponto de vista do que é surreal... Irreal e estranho... aí sim.

Imagino, como eu seria se tivesse nascido em determinado ponto do globo terrestre, teria a mesma personalidade e se tivesse, quais seriam as influências e de que forma eu pensaria em tais coisas, o que eu teria feito ou não teria. Teria desenvolvido algum tipo de disturbio de personalidade, mental. Como me vestiria, como agiria, teria qual aparência? Penso tanto e nem tenho tanto tempo para isso, e sempre me surgem em momentos inoportunos... à noite quando tento pegar no sono, de manhã quando estou acordando, durante o banho, durante a maquiagem para o dia-dia antes do trabalho.

Pensar muito é deixar de viver um pouco? Planejar demais e não concretizar basicamente nada? Ainda tento mudar, mas até lá dou asas à mente e deixo-a trabalhar em prol de meus momentos de calma e fuga do real.


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Casa Velha II



Na cozinha havia um bule verde de esmalte em cima do fogão
Com um cafe tão velho quanto a casa
A luz amarelada deixava tudo mais encardido

Será que o café-veneno me fará despertar
Ou cair de vez?

Andei sobre os azulejos preto e branco
Me senti a rainha no xadrez
Onde estará o rei?
Os peões, o bispo, a torre...

Deviam estar escondidos
Como tudo nesse lugar
Cada qual em seu mundinho

Os armários de cor goiaba
Quando os abria, rangiam
Poucas louças e muito pó

Acendo um cigarro e me jogo na mesa
Tudo parece escuro
Tão silencioso
Que me dói os ouvidos

Gritos
Pessoas na rua cinzenta
Brigando como sempre
Tentando ser só uma unidade

Esperar...
Hei de esperar
Com névoa na mente
E chuva no olhar

Minha boca seca
Chama o veneno do bule
E o tomo esperando ser o fim
Ou o começo de tudo

Caneca branca descascada
Toca meus lábios como ninguém tocará
Molha minha boca, invadindo
Quente e prazeroso líquido

A mesa estava com a pintura gasta
As cadeiras com o estofado surrado
Azulejos no teto
Verdes... a casa era toda com algo verde

A janela com cortina xadrez
Tudo clássico
Tudo acabando-se
Sentia falta

A vida um dia esteve ali
Ela simplesmente fez as malas e partiu
Não mais um lar
Um átomo no espaço

Também fui um lar
Hoje sou uma casa de caracol
O animal que dentro morava
Partiu e não mais voltará

Minhas unhas roídas
O frio me corre o corpo
A porta que dá para o quintal
Estava entreaberta

Fechei-a
Mas antes vi a janela do vizinho do lado
Um rapaz bonito se trocando
Ai, preciso de algo

Me abraço
Me aperto
O frio passa
E o vizinho acena e fecha a janela

O show nem começou
Peep show cairia bem

Passei as mãos pelo meus cabelos
Que já estavam mais oleosos que a parede daquela cozinha
Necessitava de limpeza
Eu e ela

Largo a xícara por cima dum balcão
Volto pra sala escura
Olho tudo e me dá tristeza
Profunda solidão

Era só eu no mundo
Eu e o gato
Que se tratava como Solitário
Era só eu...

A lua me olhava
Me convidava a dançar
Mas as pernas cansadas não iam acompanhar
Necessito de música

De um fogo para meu corpo
De qualquer prazer tenro
Uma fagulha de alegria
Uma risada ainda que fria


Fim do segundo capítulo

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dores

Dor que se esvai
Se parte e cai em minh'alma
Dor que acolhe e acalma

Dor minha
Dor tua
Dores febris

De febre de amor
Da culpa
Do horror

Dores vãs
Acalmam o ódio
Súplicas explícitas
Dores niilistas

Dormência do espírito
Doença do corpo
Frágil e aflito

Dores mil
Mente insana
Demente e vil

Dores e dores
Dor em suas cores
Opacas e desgastas

Dor infinda
Dor casta

domingo, 12 de setembro de 2010

She's lost control


Ela perdeu o controle de novo. E perdeu as esperanças. Perdeu-se em tudo o quanto poderia perder. Andou sobre os trilhos e parada pensou: "Como seria andar sobre as nuvens?". Esperou pelo que a levaria até lá. Foi pulando de dormente em dormente se equilibrando. "A vida é demais para mim". Queria brincar com o perigo. Amou o tanto quanto podia amar, odiou na mesma intensidade. Nada mais cobria o vazio que ela criou para si. Ela perdeu o controle de novo. Seus braços abertos como se pedisse rendição. O vento quente tentava agradá-la. Nada mais fazia sentido. Em seus olhos nada além de um olhar perdido. Em sua boca jaziam gritos aturdidos. Fora pressionada tanto quanto aguentava. E agora seu corpo era somente um corpo. Ela perdeu o controle. Só lhe restava uma música em seus ouvidos e ela a balbuciava calmamente: "She's lost control, she's lost control again, she's lost control...". Olhou para o sol da tarde. Pensava se podia aquecê-la. Usou de sua morbidez para se tornar feliz. Seus parentes achavam-na esquisita. Ela achava felicidade na tristeza. Deu um pulo e se abraçou. Seus medos haviam se perdido. Os exageros eram mínimos perto do que sentia. Sua pele rachada se partiu. Sua mente embaralhada não deixava-a pensar. Ouviu-se um apito. Ela girou e perdeu o controle de novo. Cansada, deitou-se nos trilhos.


*Baseado na música "She's lost control", Joy Division.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mande-me ao inferno!



Tudo sorri ao nosso redor
E ficamos ao centro
Nos olhando
Olhando nossas lágrimas
[voltando à origem

Todos ao redor sorriem
Por que aqui está tão frio?
Por que nos sentimos culpados?
Tristes talvez

O ar é pesado
E o clima sombrio
Somente nós dois
Dentro do círculo
Esperando pela proxima palavra

Perdemos a noção da hora
As flores florecem no seu
[mais falso brilho
E as feras estão a nos olhar
[dentro do círculo místico

O que fazemos aqui?
Esperamos pela morte?
Abandonados à própria sorte?

Ninguém vê a névoa escura?
Ninguém virá nos salvar?
Olho em seus olhos
Estão a queimar
Me vejo dentro deles
Estou a queimar

Queimemos juntos
Enquanto as borboletas voam
Enquanto a vida acontece
Que eles riam até que sangrem

Gargalham assistindo nossa sentença
Suas mandíbulas soltas batendo-se
São fantoches!
São bonecos de cera!

"Queimem-os!"
"Queimem-os!"
Gritam

Quem estará por trás deles?
Quem os comanda?
Segure firme em minhas mãos
Juntos ao inferno
Mandados ao grande senhor

Não irão nos tirar as idéias
Não iremos mudar!
Somos o que somos!
Ninguém vai nos calar!

Da treva saímos
A treva voltaremos
Meus encantos pequenos
Encarregaram de divertir
O grande senhor

A quem destruíremos
Tomará seu lugar
Tomarei teu reino
Senhor imundo e enfermo

Ao meu lado governará
O lorde renascerá
E ninguem mais se atreverá a rir
Ninguem se atreverá a desobedecer

Queimem as rosas e os bonecos
Mandem as borboletas para um quadro
Tolos merecem castigo
Serão dilacerados

E você aqui comigo
Te obedeço
Te assisto
A retomada
A identidade revelada



* E a fúria volta com a força mais mortal possível, tudo após um dia de incertezas e confusão. 'Preferia estar a 7 palmos'... em breve.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Brumas em meus sonhos


Um silêncio ruidoso despertou o nosso olhar.

Eram as engrenagens da mente
e do tempo a trabalhar.

Ecos de passos longínquos
e o peito a arfar.

Sons em cores mortas
e uma imagem a se formar.

Eras tu entrando em meu sono
e era o medo de sonhar.

Em mim o medo da certeza
e a vontade de esperar.

As janelas estão fechadas
mas a luz insiste em entrar.

Acordar. Acordar.
Acordar...

Num instante

A brisa era fresca
E o som agradável
Por mais quanto tempo
Eu iria ficar ali
Estática
Assitindo meus sonhos sendo destruídos
Com um sorriso no rosto

O destino não é tecido
Pelas mesmas mãos
Que tecem os desejos

O paraíso foi diluído
Dificilmente encontrará sua parte boa

Muros cinzentos
Aprisionam nossas feras
E o martelo do grande Deus
Irá destruí-lo
Para que nos devorem
Então o ódio tomará conta

O gelo transformado em ópio
Irromperá pelas narinas
Buscando um resquício de ar
Busca um fogo para queimar

Manda-me ao paraíso
Envolta em seus braços
Não clame por minha volta
Deixe-me deixar de existir

Meu anjo me levou
E eu estática em seu leito
Apertada contra seu peito
Gelada, inanimada
De alma inteiramente queimada

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lolita, Lo, Dolores...


Em meus braços...
Era somente Lolita
Pequena e errante
A obscura pequena dama
A me olhar o dia todo
Atráves de dois corações

Lo, Dolores...
Minha flor em botão
Lolita em meu coração

Lábios de cereja
Fazendo caretas
Travessa e sedutora
Apenas uma criança

Adorava corações
Igual ao que tem na boca
Em forma de doce
Saboreava um pirulito
Obscena garota

Seria eu fantasiando?
Um velho pervertido?
Não, Dolores
Éramos nós!

Nós em nossa concha
Cheia de culpas
Cheia de segredos
Doce garota em meus braços

Aguentava suas meninices
Suas tolices infantis
Tentei ser pai e amante
Isso é possível?

Não...
Então se foi
Para ser feliz
Com um garoto
Com um homem?

Minha Lolita cresceu
Minha Lolita desapareceu
Não é mais garota
É mulher...

E está para se completar
Espera uma outra criança
Ainda é uma menininha
Sempre será minha Lo

"Querida não cresça"
Lhe pedia chorando
Me mostrava a língua
Me dava um beijo desjeitado

Lo, para onde foi?
Voar com os pássaros?
Com os gaviões?
Com um outro homem velho?

Lolita!

Esqueça o mundo
Me esqueça nele
Seja amada
E seja Dolores

Apenas Dolores Haze

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ela encontrou um novo desejo...




A música da minha vida. Me descreve totalmente, o que sempre fui e o que sempre senti. Mesmo sendo feliz e aproveitando a vida... Sempre busco um novo desejo... tão turvo que não me satisfaz nunca, então me perco e me afundo. Aproveito minha confusão e mergulho em meu âmago... danço comigo mesma e me sinto viva. O dia em que reparei na letra... me vi flutuando nas notas musicais...


ENFIM!


Desire, Tristesse de La Lune.


[Desejo]

Sua vida permanece
Ela esperou por si mesma
Tentou esquecer
O que um dia foi
Este caminho é muito longo
Ela não conseguiu se encontrar
E sua vida mudou

Ela encontrou um novo desejo
E não conseguia o suficiente
Ela diz: "Estou perturbada"
É muito difícil para mim

A lua dançava ao seu redor
Ela se sentiu tão viva
Mostrou o que ela poderia ser
Ela voou alto demais
Pelos céus vazios e
Repousou nas estrelas

Estou enlouquecida
É demais para mim
Me empurrou para baixo
É algo em minha mente
Ninguém pode me curar
Eu encontrei um novo desejo
E não conseguia o suficiente

Sonhou consigo distante
Esta vida não parecia real para ela
Tomou decisões erradas
E não consegue encontrar uma saída
Ela arruinou-se e
Não ver o que deu errado
Isso não significa para ela


A tristeza da lua me contagia sempre... Me olha de uma forma estranha, como se pedisse para lhe acolher. Sempre nos vemos uma na outra e sua luz me banha com um frio solitário. É a doença sem cura. A beleza sem forma.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Velando uma vela


De óculos escuros.
'Encarando' uma vela a queimar.
Está em sua juventude e logo estará morta.

Sua chama palpita, como se levasse um susto.
Ou estaria apaixonada?
Luz fraca, luz forte.
Oscila.

Chora a cada tremor de sua alma, escorre o gozo de seu pranto de cera.
Um sopro, um suspiro e tremula com medo de seu fogo azul-laranja se extinguir.

Dá vida às cores ao seu redor.
Vida pálida e amarelada.
A certa distância os objetos jazem na penumbra.

Minha mão, semi iluminada, num desenho renascentista.

Corpo frágil e fácil de penetrar.
Pavio incandescente e rijo.

Parece que me ouve e compreende...
Mas sua luz não mais necessária é tirada num sopro.

E a fumaça fúnebre leva seu calor para uma viagem e passa a não mais existir.

Cera quente se resfriando nos dedos.
Óculos sem imagem a refletir.

Vela extinta.
Escuridão feita.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Everytime Burns


Existe um precipício

Existe o vácuo
Ando mais um pouco
Encontro o nada

O vento das incertezas
Sem palavras para me guiar
Luzes apagadas
Arrasto-me sob o luar

Estou invisível
Estou insensível
E quem atravessar meu caminho
O saberá

Uivando agônica
Andarilha das trevas
Inquieta e sombria

Névoa cinzenta aos meus pés
Nuvem negra sobre minha cabeça

Encontre sua resposta
Enterre suas perguntas
Deitada em meus sonhos
Me encontro a gritar

Gira o mundo
Gira a mente
Giram todos

Tudo se quebra
Se parte e se esvai

Dissipam-se os medos
Sob a tortura sutil
Um deus observa
Ardente e viril

Deleite sem fim
Ando e caio
O precipício me toma
O deus gargalha

Vestida em minha mortalha
Respiro sufocada
Aprisionada estava
E a alma apertada

Era tudo um devaneio
Mas o deus ainda espreita
Espera que lhe questione
Me queima
Me rejeita

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Rei que me rege



Ele está aqui
Está acolá
Está em todos os lugares
Ao lado de quem deseja com ele estar

Ele me vigia
Me faz temer
Me faz gritar
E enlouquecer

Às vezes zombo
Depois me desculpo

Me segue em meus sonhos
Me segue no escuro

Lhe peço mil coisas
E cobro a cada dia
Digo que me emendarei
Faço chantagens

Penso que me odeia
Penso que me ama
Penso que sou a única
Penso que me esnoba

Será que me ouve?
Indago atormentada
É claro minha cara
Me respondo aliviada

Serei eu sua criadora?
Serei sua cria?
Ei! Me escuta!
Você não existe...
Eu sabia

Acontecem coisas
Que não posso imaginar
E se as imagino
Tornam a se realizar

Um tanto estranho é meu pensar
Lê minha mente e realiza
Sem antes me consultar

Fico surpresa
Meu gênio da lâmpada
Manda-me aos mundos mais loucos
E me põe a escrever na mesa

De noite
No escuro
Ao pé da luz da tv
De madrugada
Me põe a escrever

Ou tento rabiscar desenhos
Quando quero eles não saem
Somente quando me toca
Sinto a mão escorregar

Anjo louro que me manda
Todas as noites a me vigiar
Deita comigo na cama
Envolve em suas asas e me faz ninar

Sabe que as vezes eu acho?
Que tem um reino e um altar
Nele esta imponente
E eu como um bobo da corte a pular

Acha graça em me fazer triste?
Ou irá me recompensar?
Um dia me faz feliz
E no outro está a me maltratar

O que quer de mim afinal?
Que seja uma santa?
De manto branco e sangue real
Ou uma bem casada infanta

Entenda que sou como sou
Princesa ao avesso
E cabeça cheia de estrelas
Cada uma um desejo

Um anjo rebelde de pensamentos negros
Atraída pelo oposto e pelo oposto do oposto
Atraída pelo medo
E tudo que não é real
Pelo bem e pelo mal
Vida e morte, azar e sorte
O tudo e o nada
A floresta e a estrada

Saiba que não posso me mudar
Já tentei e não me permito
Sou o que sou
Estranha, admito

Me ame e me entenda
Traga-me flores
Traga-me prenda
Faça-me a sua semelhança
E semeie um tanto de minha essência

Te amo como quer que seja
Seja uma loucura
Seja uma crença
Te sinto em meus dias
Tanto nos obscuros
Quanto nos floridos

Aceito de novo a sua sentença
Ponha-me em tuas mãos
Ponha-me em minha crença
Não abandone sua cria medonha

Me sinto especial
Por ser como sou
Me sinto seu anjo
Menssageiro real

Se eu puder mudarei
Tudo o que está ao meu redor
Pelo menos tentarei
Sendo do contra da forma que sou

E aguardo nosso encontro
Longínquo ou não
Mas peço tempo
Tempo para realizar-me
Tempo para realiza-te

Falso anjo serei eu?
Falso anjo
Anjo ateu?
De nada mais eu duvido

Somente sei que existe em mim
Está aqui e todo dia muda
E cada dia seu grau se eleva
Se brota em luz
E se camufla em treva

De Olhos Fechados



De olhos fechados eu vejo um mundo
E me aperto em minha cadeira
Solto os dedos e inspeciono
Espero que algo me apareça

Sinto cheiros e ouço sons
Ando descalça e toco a grama
Sem mover-me do lugar
Tudo sai de minha cabeça

Aparecem-me coisas lindas
Surreais e iluminadas
Outras tornam-se obscuras
E fazem com que eu desça

Um impacto me abre os olhos
E enxergo o que é real
Logo me torno triste
Fecho os olhos em busca de algo

Retorno ao mundo inventado
E me recebem de portas abertas
Aperto bem os olhos
E parece que me transporto

Olho ao meu redor
Criaturinhas engraçadas
Vida alegre e inventada
Sorri-me a moça loira
O coelho e o do chapéu

Beijo as rosas falantes
Respiro seu pólen e seu mel
Me jogo na grama movediça
Abraço meu anjo
Converso com o céu

Tropeço em minhas pernas
Estão mais longas
E não me obedecem
Agora encolhem

Puxam-me e acordo
A xícara está vazia
De olhos fechados
Mais nada vejo

Mas meu anjo está por perto
Afasta minhas mãos se põe entre elas
Aperto seu rosto branco
E me sorri amável

De olhos fechados
Me abraça e se vai
De olhos fechados
Fico a olhá-lo partir

De olhos fechados
Estou para este mundo
De olhos fechados
Sempre estarei
E quando abrir
Ao MEU mundo retornarei!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Desejo Turvo



A dama toca seu camafeu partido. Toca seus lábios, seus cabelos bagunçados. Olha ao seu redor. Sentada ao chão e ao seu lado um corpo de um homem. Se levanta e nua anda pela sala, aflita. Tenta colocar sua cabeça no lugar. Olha para o homem, com seus cabelos esparramados no chão e... sangue.


Uma poça de sangue que se esvai de sua cabeça. Desesperada se abaixa e delicadamente toca o corpo jogado. Está quente. Mas não se sabe se ainda está vivo. Pele macia. Corpo de bruços. Com uma força agonizante tenta virá-lo. Sem sucesso.

Deita sua cabeça sobre o homem e chora. E chora. Não foi sua culpa. Foi um acidente. A dama desesperada e o cavalheiro sangrando. De sopetão, vira-o e bate em sua face.
Desacordado ainda. O que fazer?

Pele macia. Pele sedosa. Passa-lhe a mão sobre sua seda. Tenta despertá-lo. Desperta a si mesma. Corpo nu e sangrento. Jogado. Quebrado. Partido. Olha sua face imóvel. Um anjo a descansar. Ainda alí? A alma está?

Desvestiu seu camafeu. Segurou-lhe pela ponta dos dedos. Pendendo sobre o corpo, como um pêndulo. Caminhava até o ventre. Tinha calafrios. Engolia seco. Respirava ofegante. Olhos fechados. Pensamentos turvos.

Abre os olhos. Volta a si. Toca o peito desnudo do homem e não sente batimentos. Agonia toma conta de seu ser. Põe se em cima do corpo e bate em sua face. Grita. Chama. Cai. E chora, derramando suas lágrimas no rosto alheio. Suspira e suspira. Encara-o chorando. E beija seus lábios. Doces e secos.

Afasta sua face. Continua posta em cima do corpo. O sangue não mais derrama. Ajeita-se. Lágrimas escorrem e seus olhos se reviram. Treme. Apoia no tórax abaixo de si. Impulsiona. Impulsiona. Impulsiona. Ajeita-se. Impulsiona. Impulsiona. Chora. Ofegante e aflita. Revira os olhos inundados. Impulsiona. Impulsiona. Impulsiona!

Cai. Cai sobre o corpo. De ouvido no coração. O coração bate. Bate mais forte. Quase explode. O cavalheiro não estava morto. Apenas desacordado. Agora voltava a si. Respirando com dificuldade. Estava acordando. E a dama tendo um orgasmo.



sábado, 15 de maio de 2010

Dama do Camafeu



Flor despetalada
Se olha no espelho
Se encontra no vazio
Com seus pensamentos brancos

Vago é seu olhar
Triste seu semblante
A esperar por algo
Talvez por um amante

Rubra face inexpressiva
Com lágrimas secas nos olhos

Por um segundo se encontrou
Mas volta a se perder
Afunda-se em seu ser

Borboletas a distraem
Deseja ser como elas
E mudar sua face
Trocar sua pele falsa

Fraca dama em seu leito
Ela espera por uma resposta
A vida não lhe deu escolha
E a quer jogar ao vento

Não espera por um amor
Espera por si mesma
Sorrir por algum feito
Sorrir por sua beleza

Bela rosa no espelho
E se enxerga um graveto
Entre um jardim imenso
Só se enxerga seus espinhos

Alvo lírio delicado
Que tal encanto se rejeita
Espera por ser admirado
Pelo dono de sua beleza

Se abrace bela dama
Dance consigo mesma
Sinta o gosto de sua alma
Deita em sua cama e se aceita

domingo, 2 de maio de 2010

O pensamento coletivo me deprime

Um pai fala de morte com sua filha, como se estivesse preparando-a para o dia de sua partida. Falava de céu, de anjos, de Deus... E a abraçava. Ela achando tudo aquilo divertido e nem ficou com medo. Ele dizia que ela devia aprender algumas coisas desde nova, como a responsabilidade e lhe deu um véu. Ela dobrava e desdobrava, amassava. O pai dizia que ela devia cuidar dele, que ele não compraria outro. A questão da morte para a criança lhe rendeu boas perguntas, curiosidade pueril. Ouvia o pai falar, com uma pequena bíblia na mão. Contou lhe sobre a alma, que assim que se separava do corpo ia para o Reino dos Céus e ficava ao lado das pessoas boas, isso se tivesse praticado atos bondosos. A garotinha perguntava se ele também iria. Então começou a contar como seria sua "passagem".

E se alguns segundos depois tivesse acontecido algo com ele? Se tivesse morrido naquele momento? Diriam que ele preveu, premeditou? Foi intuição? Enfim... a garotinha estaria pronta para o mundo? Lembraria das palavras sobre responsabilidade e bondade? Perguntas a parte. Não ocorreu nada e então a conversa foi só uma conversa, no metrô e eu como ouvinte curiosa e atenta. Um dia quando esse senhor se for sua filha lembrará do exato momento em que a porta se abriu e saíram, se abraçaram e ele com aqueles olhos de pai orgulhoso, amedrontado, preocupado. O que o mundo reserva para estes dois? O que ele reserva para mim? Estarei aqui amanhã? Depois? Voltarei a escrever aqui?


Enfim, as coisas são estranhas e o mundo é imprevisível. Perigoso. Mas palavras que se dizem segundos antes de morrer valem mais do que quando passam-se meses ou anos. Às vezes a vida se encarrega disso para passar uma mensagem que nem sempre é ouvida... gera uma situação pior, caos. Ouça, não só ouça o que as pessoas têm a te dizer. Não julgue uma pessoa que fala sozinha como louca, ou que reza pelo mundo, que espalhe a paz, o amor... seja lá da forma que for. Anjos aparecem, em meio às nossas vidas, eles testam nossa capacidade como seres bondosos.


Um fato curioso que ocorreu um dia desses me chamou atenção. Uma senhora no ponto de ônibus, com uma sacola cheia de coisas, parou, repousou as coisas sobre o chão e começou a murmurar. Fiz uma cara torta de quem está de saco cheio, depois entendi o que falava... ela rezava... Com as não estendidas para o céu quase escuro, perambulava e passava entre os tanseuntes do local. Quase entoando um cântico, recitou algumas orações católicas bem conhecidas. Uma senhora de aparência "religiosa" porém de outra religião passou por ela e desviou acrescentando: "Sai mulher! Vai rezar na sua casa!" e parou ao meu lado, com o semblante de que queria comentar sobre aquilo, olhei para ela e não disse nada apesar de as palavras me virem até a boca. A senhora também quis me dizer algo mas preferiu olhar com pensamentos certamente ruins em relação a outra senhora que acabara de rezar, pegava suas coisas e se dirigia para outro lugar. Se foi. Eu não disse nada e logo meu ônibus chegou. Fui, numa paz e calma, antes estava aflita, com medo das pessoas. Ainda tinha uma desconfiança mas via a esperança da mudança da visão alheia.


Com tudo isso? para que serve a religião?? Religião... religar? Segundo Lactâncio, um autor cristão, o termo religião vem de religare, religar, argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus. [Wikipédia] Bom, deixa eu tentar entender... o que foi a reação da senhora que certamente era de uma religião "oposta" a da senhora que rezava? O líder da igreja dela pode fazer pregações na praça da sé, no metrô, nas ruas. Algo até comum de se ver, mas uma católica não pode sair por aí simplesmente abençoando suas ruas, sua cidade, seus companheiros dessa caminhada para a certeza da morte.


O tal do "mainstream" emburrece, limita, não importa em qual setor. Um artista não pode desenhar santos e demônios convivendo com suas diferenças, não pode unir toda e qualquer religião, senão é chamado de estranho... doente. Uma pessoa não pode se expressar através de um lado sombrio, pois é tratada como louca, anormal, de mau gosto. Eu sei porque sofre com isso e não acho que isso seja errado, imoral, feio. A beleza está em quase tudo, as pessoas que não sabem enxergar suas diversas formas. Ou pelo menos deviam tentar entender os diferentes pontos de vista, não precisam compartilhar da mesma opinião, mas pelo menos não julgar dessa forma tão grotesca e repudiante.


Hoje eu trato qualquer assunto de uma forma mais normal, aceitável ou pelo menos explicável ainda que bizarra. Exceto óbvio os assunto em que envolvem prejudicar os outros, seja humano ou animal. Humanos... ainda tenho que aprender a amá-los, mas com tanta mediocridade é muito difícil. Mas isso é pano pra outra manga.

sábado, 10 de abril de 2010

Sol Negro


O sol nasceu escuro
Por detrás das minhas costas
Nasceu prematuro
Representa o medo que me guarda

Tão quadrado
Tão gigante
E tão negro

Por que não quer mais brilhar?
Não mais me iluminar

Não nasceu como nasce nas manhãs
Nasceu tão triste
E com uma cor que não existe

O sol negro nasce em seu corpo
Quando está com medo de sí próprio

Quando quer esconder sua identidade
Ocultar sua verdade
Quando teme tirar a máscara

O sol te marca então
É o medo da aceitação
Te deixa marcas profundas
Queima suas ilusões
E queima suas certezas

Se torna vago
Sem clareza
Vazio
Da melancolia uma presa




* Baseado em um dos meus poemas encontrados, originalmente em forma de música.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Liberdade para a alma



Liberta fui
Sob o choro do luar
Nas lágrimas de sangue
De um tenro e místico olhar

Liberto foi meu coração
Ama e desama
Sem cicatrização
E aos novos tempos clama

Dei-me a liberdade
O sorriso do adeus
A angústia da derrota
E o início da batalha

Uma nova batalha
Aquela pela qual ansiei
Que me porá no chão
E estarei certa de que me enganei

Doce engano
Uma outra liberdade
Um outro sorriso
Uma outra vaidade

Apesar da inveja corrosiva
Meus planos se renovam
Um novo sentido cairá
E a um novo alguém atingirá

Que venha!
Agora que meu peito canta
Que o frio me percorre a espinha
Que meu coração livre palpita

Não escondo meus pesares
Os sentimentos remoídos
O ódio oculto
Noites e dias sofridos

Agora enterrei o medo
E a dor de não realizar
Cavo mais fundo ainda
Para minhas lembranças enterrar

Apagadas estão
E desde então
Alguém as tomará
Haverá outra face em seu lugar

Sob o canto lírico do vento
Deixo o grito escapar
Deixo ainda um último verso
Foi a última lamúria

Virão os novos guerreiros
Sedentos por me flexar
Deixarei que enterrem em meu peito
Para assim a dor cessar

Aprensente-me um novo riso
E uma nova forma de amar
A alma já está pronta
Para mais uma vez se aventurar


Bi

sexta-feira, 26 de março de 2010

Quando a morte chega



Sinto a morte chegar
E me levando aos poucos
Sinto a suave brisa do cemitério
Vejo a vida me deixar
Com um lindo sorriso

Vi a luz de seus olhos se apagarem
Seu corpo desfalecer
Sua boca tremer
E seus olhos se inundarem
Com lágrimas de sangue

Ouço os sinos tocarem
E seu coração bater mais forte
Meu corpo frio
Congelando o seu
Suas mãos me tocam pela última vez

Chega a hora de te dar adeus
Deixar sua vida
E seguir vagando pelos cemitérios
E corredores de hospitais

Meu sangue derramado
Te lembrará este dia
Em que a morte me levou
E te deixou nessa injusta vida

A terra divina
Amaldiçoada se tornará
Com milhões de corpos
E suas almas a agonizar

Surge a brisa
Que traz o frescor dos cravos
As rosas murcham
E o tempo se torna vago


* Achei esse poema em outro blog meu, muito antigo, lembrei-me que tenho um caderno de poesias mórbidas... Sim minha fase decadente, na qual comecei a escrever e me interessar por poesias, na época por conteúdo sombrio, hoje em dia gosto desde Baudelaire até Pablo Neruda. Vou postando-as aqui pouco a pouco, intercalando com a minha mais nova fase.
Bi

quarta-feira, 10 de março de 2010

Descanse em paz


Parei em frente seu túmulo
O vento levava minhas lágrimas
As rosas vermelhas repousavam
E um frio rasgou-me a alma

Não mais chorarei
Meu coração tem uma chave
Que contigo se foi
Não mais amarei

Sentada na grama
À sua espera
Um milagre generoso,
Para alguém que ainda te ama

Leve minhas mágoas
Meus devaneios
As noites mal dormidas
E tudo que anseio

Não mais viverei
Respirarei somente
Todos os dias da minha vida
Se tornarão uma cruz

Hei de carregá-la
Pois assim desejei
Quando pedi que em minha trilha
Tropeçasse em seu caminho

Foste a pedra em meu sapato
Foste a primavera em meu jardim
Foste o sol do amanhecer

Carregue as tristezas contigo
E a sensação de vida vazia
Os sonhos e os risos
Leve contigo

Em cima de sua lápide
Aqui ficarei
A esperar alguém chegar
Algo melhor que ti

Para que possa enterrar
Todas as nossas lembranças
Vagas e mentirosas
Não passaram de ilusão

Que os anjos te levem pelas mãos
Que encontre a luz para sua escuridão

Quanto tempo parada aqui
Passei a olhar-te de outra pespectiva
Com desesperança
E uma oculta expectativa

Meu semblante desolado
Assiste você partir
O tempo voa de meus braços
Para mais longe deve ir

Nunca volte para mim
Se for por um não
Nunca volte

Levanto e me vou
Viro e dou adeus
O pranto não escorreu
A lápide estava em branco
E você não estava morto
Bi

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Agônico, o Canto - Zé Ramalho

Deixa-me dizer-te o quanto
Eu te quero agora, juro meu amor
Nada me fará temer
Se quando eu te beijo, viro um beija-flor
Todas as palavras ficam
Tão obsoletas quando vou tentar
Algo que contenha a fórmula
Desse desejo louco se queimar
Nossa viagem nunca vai se acabar
Todas mensagens estarão sem afastar
Duas miragens que farão se apagar
Uma imagem num clarão vem acalmar




Uma poesia belíssima sem dúvida. Tocou-me de tal forma, praticamente o que estou vivendo. Me lembra algum movimento literário... talvez... Trovadorismo? Se bem que se fosse, seria cantiga de amor, e nessas o amor é platônico... é, acho que preciso estudar mais!!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Enfim se foi

Sim, eu te guardei em um sorriso secreto,para que assim pudesse curar minha loucura.
Andar sem rumo não resolve mais nada, a dor volta e a confusão aumenta.
Te guardarei mais fundo ainda se for possível, para que não mais apareça em meus pensamentos.
E que um vulto negro tome seu lugar para que possa ter meus devaneios noturnos e adormecer no calor de minha própria alma.

Pode parecer tudo tão vago e sem sentido...
Sim, é assim que está se tornando essa minha vida, pois creio que esvaziando minha essência poderei purificar minha existência.

Quem sabe você também não exista? Não passa de um dos frutos de minha imaginação.
Tal perfeição imperfeita que só pode existir onde nada existe, na ficção de minha mente.
Somente eu sei o quão estranho é... não saber se sabe... não sentir se sente... não entender se entende.

A nuvem negra retorna trazendo toneladas de dúvidas para inundar meu jardim de certezas.
E tudo parece ficar tão pesado e tão calmo, como em um enterro num dia chuvoso. E mesmo assim os anjos insistem em aparecer com sua luz intensa e flutuante.

Parece que nunca acaba... quanto mais saem as águas turvas de meu ser, mais inunda e mais me afogo.


Bi Manson