UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

domingo, 26 de setembro de 2010

Surrealismos

Quantas gotas de surrealismo cabem em sua mente?
Só sei que a minha vem transbordando. Desde transtornos que me fazem ter certas alucinações imaginárias, até situações inusitadas que eu crio para me distrair. Salvador Dalí me entenderia... Me possua Dalí! (Rs) Deixe-me ser seu veículo de loucura aqui na Terra. Bom, Dalinismos à parte...

Um dia acordo e meu vizinho da frente é meu maior ídolo. Marilyn Manson em sua versão Sr. Brian Warner me aparece acenando pela janela e sorrindo, logo pela manhã, enquanto eu dou um aceno tímido e coro imediatamente. Num outro estava alí, lavando seu carro na frente da garagem, sem camisa e eu olhando pela vidraça. Noutro saía de toalha com o cabelo molhado, para apanhar o jornal, o cachorro o lambia e eu espiando, ele me vê e acena. Surreal, tão surreal que não seria de seu feitio tais coisas, até porque é tímido como eu.

Ouvir músicas e criar clipes e momentos em sua cabeça. Acho que deveria fazer rádio e tv... Não, minhas idéias não passariam de mau gosto, acho que a arquitetura é o lugar certo para exorcizar e exteriorizar esses desejos incontidos que um dia poderiam se tornar montros. É a arte meu querido, é ela que me chama sempre... mas sou tímida demais para ela e decidida demais para meu outro amor, o eterno, o científico e animalesco... selvagem!

Meu último pensamento surreal, show do Rammstein à vista, dominando completamente minha playlist, ansiedade. Amour, Amour! Eis que a imaginação vem à tona e tudo começa... O local: uma dessas casas de shows onde acontecem apresentações de tango argentino, predominantemente vinho, iluminação quente, aconchegante e vintage. Um palco, um bar à esquerda, uma única mesa na platéia, com sete lugares. A música: Amour, Rammstein. No palco: Till Lindemann nos vocais; Oliver Riedel no baixo; Flake nos teclados; Doom na bateria; Paul Landers E Richard Kruspe nas guitarras, todos vestidos com terno preto risca de giz e uma rosa vermelha no bolso, no melhor estilo latino. Na platéia: eu, vestido preto, rosa vermelha no coque.

A música começa (dê o play!), seis corações cantando a maldição do amor. Começa o show, eu a assistir.

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie atmet dich, sie sucht nach dir
Nistet auf gebrochenem Herz
Und geht auf Jagd bei Kuss und Kerzen
Saugt sich fest an deinen Lippen
Gräbt sich dinge durch die Rippen
Lässt sich fallen, weiss wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Till, desce do palco e caminha lentamente em minha direção. Levanto-me e ouço-o cantar para mim, segurando em minhas mãos e me fazendo girar, me mover:

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie beißt und kratzt und tritt nach mir
Hält mich mit tausend Armen fest
Zerrt mich in ihr Liebesnest

Frisst mich auf mit Haut und Haaren
Und wirbt mich wieder aus nach Tag und Jahr
Lässt sich fallen, weich wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh


Arranca-me o lenço do pescoço, começando o refrão no meu ouvido e depois vai se distanciando, voltando ao palco com o lenço apertado entre os dedos:

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Todos me encaram de uma forma sedutora e amarga, me sento e seguro a taça de martini mexendo-a, olhando de forma instigante:

Die Liebe ist ein wildes Tier
Sie atmet dich, sie sucht nach dir
Nistet auf gebrochenem Herz
Und geht auf Jagd bei Kuss und Kerzen
Frisst mich auf mit Haut und Haaren
Und wirbt mich wieder aus nach Tag und Jahr
Lässt sich fallen, weiss wie Schnee
Erst wird es Heiss, dann Kalt, am Ende tut es weh


Provo o martini e os observo olhando por cima da taça, Till ainda com o lenço, apertando-o e ergendo-o com o punho fechado:

Amour Amour
Alle wollen nur
Dich zähmen
Amour Amour
Am Ende
Gefangen zwischen deinen Zähnen


Estava envenenado, me engasgo e levanto com dificuldade, com as mãos na garganta e com o olhar neles, a clamar por socorro:

Die Liebe ist ein wildes Tier
In die Falle gehst du ihr
In die Augen starrt sie dir
Verzaubert wenn ihr Blick dich trifft


As pernas já não respondem, me apoio e puxo a toalha da mesa, indo ao chão, estendendo uma das mãos aos seis cavalheiros e percorrendo com os olhos a expressão indiferente de cada um deles. Me desepero e tento arranjar ar:

Die Liebe
Die Liebe ist ein wildes Tier
In die Falle gehst du ihr
In die Augen starrt sie dir
Verzaubert wenn ihr Blick dich trifft


Meu coração dói, me rastejo. Minhas veias saltadas e as unhas sangram, arranhando o chão e a garganta, me debato e tremo, ainda com uma das mãos estendidas clamando por um último suspiro... :

Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift
Bitte Bitte, geb' mir Gift


Em vão. Till solta o lenço e se vira para seus companheiros.

O Fim


Imagino toda vez que ouço essa música, já se tornou um Déjà vu. Um dia amadureço mentalmente enquanto isso deixa ela brincar e inventar, isso realmente me acalma e me distrai. Essas coisas nem são tão surreais, bom, dependendo do ponto de vista do que é surreal... Irreal e estranho... aí sim.

Imagino, como eu seria se tivesse nascido em determinado ponto do globo terrestre, teria a mesma personalidade e se tivesse, quais seriam as influências e de que forma eu pensaria em tais coisas, o que eu teria feito ou não teria. Teria desenvolvido algum tipo de disturbio de personalidade, mental. Como me vestiria, como agiria, teria qual aparência? Penso tanto e nem tenho tanto tempo para isso, e sempre me surgem em momentos inoportunos... à noite quando tento pegar no sono, de manhã quando estou acordando, durante o banho, durante a maquiagem para o dia-dia antes do trabalho.

Pensar muito é deixar de viver um pouco? Planejar demais e não concretizar basicamente nada? Ainda tento mudar, mas até lá dou asas à mente e deixo-a trabalhar em prol de meus momentos de calma e fuga do real.