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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Casa Velha II



Na cozinha havia um bule verde de esmalte em cima do fogão
Com um cafe tão velho quanto a casa
A luz amarelada deixava tudo mais encardido

Será que o café-veneno me fará despertar
Ou cair de vez?

Andei sobre os azulejos preto e branco
Me senti a rainha no xadrez
Onde estará o rei?
Os peões, o bispo, a torre...

Deviam estar escondidos
Como tudo nesse lugar
Cada qual em seu mundinho

Os armários de cor goiaba
Quando os abria, rangiam
Poucas louças e muito pó

Acendo um cigarro e me jogo na mesa
Tudo parece escuro
Tão silencioso
Que me dói os ouvidos

Gritos
Pessoas na rua cinzenta
Brigando como sempre
Tentando ser só uma unidade

Esperar...
Hei de esperar
Com névoa na mente
E chuva no olhar

Minha boca seca
Chama o veneno do bule
E o tomo esperando ser o fim
Ou o começo de tudo

Caneca branca descascada
Toca meus lábios como ninguém tocará
Molha minha boca, invadindo
Quente e prazeroso líquido

A mesa estava com a pintura gasta
As cadeiras com o estofado surrado
Azulejos no teto
Verdes... a casa era toda com algo verde

A janela com cortina xadrez
Tudo clássico
Tudo acabando-se
Sentia falta

A vida um dia esteve ali
Ela simplesmente fez as malas e partiu
Não mais um lar
Um átomo no espaço

Também fui um lar
Hoje sou uma casa de caracol
O animal que dentro morava
Partiu e não mais voltará

Minhas unhas roídas
O frio me corre o corpo
A porta que dá para o quintal
Estava entreaberta

Fechei-a
Mas antes vi a janela do vizinho do lado
Um rapaz bonito se trocando
Ai, preciso de algo

Me abraço
Me aperto
O frio passa
E o vizinho acena e fecha a janela

O show nem começou
Peep show cairia bem

Passei as mãos pelo meus cabelos
Que já estavam mais oleosos que a parede daquela cozinha
Necessitava de limpeza
Eu e ela

Largo a xícara por cima dum balcão
Volto pra sala escura
Olho tudo e me dá tristeza
Profunda solidão

Era só eu no mundo
Eu e o gato
Que se tratava como Solitário
Era só eu...

A lua me olhava
Me convidava a dançar
Mas as pernas cansadas não iam acompanhar
Necessito de música

De um fogo para meu corpo
De qualquer prazer tenro
Uma fagulha de alegria
Uma risada ainda que fria


Fim do segundo capítulo