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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Espinhos, pele, sangue



Quando sua última pétala cair, saberá que o mundo todo despetalou-se, e que tudo são espinhos. Somente espinhos, pele e sangue. Ninguém por você, ninguém que te proteja de rasgar-te a seda da pele. Nem ao menos os seres mais próximos de ti.

Os primeiros virão e roçarão no seu rosto e o veludo se partirá com a superfície pontiaguda e vívida. Não peça respeito, havia um somente... e sob as pétalas ele jaz. Violado pelos próprios sentimentos. Pena que não mais respira...

Faça seus próprios espinhos crescerem e crie sua barreira contra essa imundice, contra esses primatas que agem por puro instinto... Instinto esse que te fez pecar, te fez ferir a superfície do corpo de quem te guardava, do único que te despetalaria se assim o permitisse, um que não cravasse seus espinhos profundamente sem sua permissão, somente para lhe causar dor.

A cor pálida em seu rosto... era a mesma de quando o tinha por perto? Ou era ainda uma flor em botão? Prestes a sangrar sua inocência?

Ambos se dilaceraram o tanto quanto puderam, deixaram suas entranhas em pedaços... porém a pele era sempre a mesma cama macia de pétala de rosas. Banhada de súbita paixão e assim sabiam que um era do outro... Até os espinhos saírem de seus cernes... Até saberem que o que vinha de dentro dilacerava. E que a pele continuaria intocada enquanto presentes.

Na ausência de ambos... foram se perdendo e se deixando arranhar, perdendo a maciez juvenil e a cor rubra que possuíam... Hoje teu rubro é de teu casto, teu casto gasto de espinhos apinhados que se roçam a outros...

Nunca mais voltará a ter a pele de pêssego recém colhido, o aroma das flores da primavera e nem mesmo as cores vivas das asas dos beija-flores. És somente o escárnio de teu próprio sentimento. O sangue pisado e batido, o odor podre de ter sido corrompido... primata... querendo resistir aos instintos.

Apenas a almejar as pétalas virgens do corpo que descansa sob elas... o respeito que impedia os espinhos de crescerem e de romper a fina tez... a alma destruída de recipiente algum precisa, de respeito algum e de celibato algum... viva o corpo primata que padece sob o poder da alma. Viva o corpo que mata ao prazer súbito da calma.