UM BLOG DEDICADO AO SURREALISMO DA MINHA MENTE. COM POEMAS, SONHOS E TEXTOS.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Óculos



Meus óculos permitem vê-lo.
São mágicos, mas necessitam reparo.
Ultimamente opacos. E quando os tiro, o breu se faz.

Não importa para onde tento olhar.
Sempre tem algo incômodo, querendo me cegar.

Não quero ter que tirá-los e ficar no breu.
E as luzes não se deixam alcançar.
Fogem de minha retina.

Antes enxergava perfeitamente.
Sem óculos mágicos, sem opacidade.
Contemplava a bela figura, o dia todo.

Agora não prestam mais.
Terei que me desfazer...
Pena, era tão bonito!

Eu caminho e nada vejo. Nada me interessa.
Mas alguém veio em minha direção.
Parou em frente a mim.
E tudo tomou um novo rumo.

Eu andava cabisbaixa e a luz refletida não me permitia ver.
Esse alguém me ergueu o queixo. E me limpou as lentes.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Christine

Sou feita de exagero e drama
Ruim de fogão e boa de cama
Aquela que ama e desama

O nome por quem ele chama
Cheia de planos e tramas
Coberta de flores
Coberta de lama

À noite sem rumo e sem grana
Pomposa feito uma dama
Quem vê até se estranha

Me deito na grama
Me deito com ele
E ele me ama

A namorada nem sonha
Em sua casa, em sua cama
Enquanto ele se banha
A noite passa e não me acanha

Cheio de manias, cheio de manha
Me faz um drinque
Me beija e me ganha

"Christine! Christine!
Acorda!
Se manda!"

Suja estou
De luxúria, de lama
Como uma top model
Auge da vida, auge da fama

E assim chega de banda
A namorada, a primeira dama
Ele me olha
E sabe da barganha

Primeiro o dinheiro
"Toma Christine!
Anda, anda!"

E pulo a janela
Corro descalça na grama
Ele me ama! Ele me ama!

Ele me tem
Ele me manda
Ele é quem pede
Ele comanda

É aqui fora a vida sacana
Ora me bate, ora apanha
E aqui sei que não tem manha
Ela me vende ela me compra

Mas aquele é o meu gato
E é em mim que ele gama
Na rua, no beco
Na cozinha ou na cama

Sou Christine, a destemida
Sarcástica e bacana
A pobre garota
Que a todos engana

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um anjo que morreu de raiva



Um anjo que morreu de raiva... Assim foi queimado pelo seu ódio.
Tentando acreditar que tudo se resolveria, que daria certo.
Permitiu dar-lhe quantas chances fossem precisas e falhou em todas elas.
Ele olhava precipício abaixo, balançava. Sua garganta seca.

O vento forte empurrava seu corpo, que resistia.
Uma pedra cai e se estoura no chão, lá longe.
Gritava como se fosse explodir.
Tudo saira de seus planos. Tudo foi pelos ares.

Uma bomba atômica em sua vida.
E o amor que nunca existiu, jamais lhe apareceria.
Ele tentou acreditar, tentou se entregar.
E acabou com uma grande lança no peito.

Sua ferida aberta e exposta ao sol.
Mas a dor não era maior que seu ódio corrosivo.
Corroía tudo e se preparava para tomar sua vida.
Balançou e seus pés não o deixaram escorregar.

Sentia medo e vontade. Queria de vez acabar.
Seu corpo a oscilar e seus gritos a se calar.
O sangue lhe escorria e a roupa colava e quase se arrebentava.

Deu um último urro! Olhou para os céus e blasfemou.
Renunciou tudo e todos. Arrancou a lança e jogou-a em Deus.
Respirou ofegante e seus sentidos se perderam.
Deu um impulso e pulou!

De olhos fechados sentia o vento passar dentro de si.
A pressão do ar contra seu corpo e a gravidade.
Tudo passava pela sua cabeça e pensou que já se separava de sua alma.
O peito se apertou e a queda foi inevitável.

Mas suas asas se abriram. E ele voou.
Foi pairando e a consciência voltando.
A lança atravessou suas mãos.
E ele agradeceu.


* Baseado na música "Ódio", Luxúria.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A garota do ônibus



Linda, me sorri de uma forma alegre. Assim ela entra no ônibus.
Encontra imediatamente meus olhos. Me conhecia?
Claro que não.
Mas me encantava.

Horário de pico. Multidão. E ela sorri, timidamente.
Eu me encolho, seus olhos pareciam me corroer.
Ai que dor apetitosa!

Abaxei a cabeça. E não vejo mais seu rosto. Logo vai se esvaziando.
Ouço o giro da catraca e ela está ao meu lado, em pé.

Temo olhar para cima e ela estar me olhando.
Ai que vergonha!
Linda...

Ela aproveita as curvas mal feitas para roçar suas pernas nas minhas.
Para me tocar. Fito-a inteiramente.

Belo corpo. Bela roupa. Bela garota.

Com seus um metro e setenta e poucos, seus cabelos louros e um ar não tão feminino.
Mas era encantadora a figura.
Morreria admirando-a.

Foi indo para o fundo do ônibus e meus olhos famintos a procuravam.
Encontrei.
Levantei-me e fui me espremendo entre os passageiros.

Então fiquei de costas pra ela. E a curva vinha e seu corpo vinha junto.
Sentia seu perfume e via sua silhueta no vidro refletida.

Sentou-se e a situação se invertera.
Curva vem e minhas pernas vão, quase que querendo enlaçar com as suas.
Disse algo.

Tiro os fones para ouví-la. "Quer que eu segure a mochila?".
Não, valeu, já vou descer gata!
É o que respondo e vejo o último sorriso.

Em minha mente já me martirizava,
quase que jogo para o alto meus compromissos e fico alí,
esperando o banco ao seu lado ficar vago.

Gata... Cheguei no meu destino.
Desço e arrumando a mochila ainda olho para dentro do ônibus.

Há! Estava ela a olhar, foi o último sorriso desperdiçado somente pra mim.
Naquele momento ela foi para mim,
só para mim
e eu me sentia a pessoa mais iluminada e sortuda do mundo.

Por um sorriso, apenas um sorriso...
Mas o acaso é assim mesmo.
Pena não ter sido em outro lugar, outra hora.
Ou pelo menos outra situação.

Linda linda linda!
Valeu-me o dia!
Valeu-me a ida!

Era um anjo!
Era um anjo!
Era um ANJO!

domingo, 3 de outubro de 2010

Constantino


Alma minha logo eu choro
Sonho contigo e me devoro
Logo surge a me chamar
Clamo a ti no meu ninar
Busco a ti em meus momentos de vazio
Pensando em ti aqueço meu corpo frio
Lembro do teu semblante sóbrio
E que aumenta minha libido
Alimento meu desejo platônico
Ouça a sinfonia de minh'alma
Cantemos juntos nossas lágrimas
Despejemos nossas mágoas
Em um copo de absinto
Deite-se comigo e me mostre teu encanto
Lamentarei quando levantar e não ver teu corpo
Logo eu vivo
Logo eu morro

*Uma homenagem ultra-romântica, encontrei amassado um dia desses, com razão rsrs. Não é do meu feitio escrever coisas tão explíitas (em relação a sentimentos), prefiro a tríade ambigüidade-mistério-confusão.

Ah! Ela...


Ela está escrevendo.
Ela é tão bonita.
Dorme com uma mão no rosto.
Ninguém disse a ela,
que é tão linda e tão vazia.

Anda com seus fones e música alta.
Um casaco pesado.
Atravessa sem olhar para os lados,
passos largos.

Hoje ninguém disse a ela que é bonita.
Pega um papel no chão e põe no bolso.
Está sempre com a cara séria.
Olhando pela janela do ônibus
e pensando...
Oh! Ela é tão vazia!

Nos shows agitando a cabeça,
e acompanhando a música.
Os movimentos delicados
ao abrir um bombom.

Ela é brilhante.
E se entedia com qualquer coisa.
Debaixo do sol ela fecha seus olhos.
Revira a bolsa e acende um cigarro.
Tão bonita e ninguém vai dizer...

Quando se entristece revira o quarto,
procura seus cadernos
e organiza seus papéis
Nas baladas ela canta para si mesma
e procura sempre alguém
Anda sem rumo e pensativa.
Ela é tão vazia...

Ela é radiante!
Devia vê-la ao sair do banho.
Olha para a lua e faz mil pedidos.
Sua face às vezes cora.
Meu Deus como ela brilha!

Se olha no espelho às vezes
e parece não gostar...
se reconhecer, às vezes sim...

Imagina tantas coisas...
Ri poucas vezes.
Pensa ser invisível.
Ela é tão linda...
E nunca ninguém disse a ela.