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terça-feira, 28 de junho de 2011

Fantasmas




Seus fantasmas insistem em me perseguir
Nos devaneios, nos sonhos
Sempre a sorrir

Leve-me para o lugar onde eles ainda estavam vivos
Para as memórias frescas e vistosas
Arranque-me um sorriso

Eu ainda lembro de seus olhos me evitando
Lembro deles, tímidos e perdidos
Assim como você me parecia

Já não existe nada
Já não faz sentido algum
Mas aqui em algum lugar fica
E sempre teima em ir

Te despachei mil vezes
Por que me atrapalha tanto?
vá por aí viver sua vida
Solitária ou não

O fato é, meu querido
Já me deixou a tempos
Meu coração ainda te mantém quente
Em um ninho onde se espalha

Como doença, como vermes
É sujo, é decadente
Me consome

O seu amor me parasita
E abre espaço para outros
E os devora, assim indecoroso

É psicótico!
Um fantasma que nem Freud explica
Nem padre exorciza

Me rende e me prende
Onde estão as algemas que mal as sinto?
Livre dentro de um presídio

Meu suicídio de cada dia
Meu doce amargor de cada noite
Ainda que me deixe experimentá-los
Ainda que me deixe amá-los

Não me livra das correntes de seus atos
Atos mal decifrados
Gestos mal expressados

Banhada numa indecisão
Decido deixar-te afundar
Afunda-se em mim
Morra aqui dentro

Mas te peço, não me perturbe!
Não me acorde desses sonhos!
Não me faça visitas noturnas!
Liberte meus fantasmas!
Liberte seus carmas!

Abata-os sobre qualquer cabeça vazia
Sobre qualquer peito mal-amado
Deixe seu retrato espalhado
Mas me tire a visão

Esteja em qualquer lugar
Mas não me faça te notar
Não estarei mais aqui para ti
Não estarei mais querido
Te guardei num porão

Grite, esperneie, mas não
Não volte a me procurar
Não em meus sonhos
Sumir eu proponho

Assumidos meus medos
Assumidos meus desejos
Somente um beijo
Somente o vejo

E assim ficou
Intocado porém rasgado
Assim avassalador
Invadido sem invasor

Mas as chamas que aqui ardem
As que alguém colocou
Te queimarão
Deixará de existir querido

Há de se extinguir
Mesmo que queime a mim
Uma parte de mim
Serei feliz imperfeita

Fantasmas dilacerados
Anjos foram libertados
Queimados em suas conchas
E suas cinzas já não me fazem sentido

Desapareça querido!
Apenas mais um indivíduo
Mas eu duvido...
Ah, eu duvido...